Dom José Alberto Moura vai presidir Missa da Ressurreição (7ºdia) de Padre Henrique Munáiz Puig nesta quarta-feira, 25 de outubro, no Carmelo Maria Mãe da Igreja e Paulo VI (Carmelitas) às 7h da manhã, às 19 hs Pe. Luis Sefrin celebrará no Carmelo. No Círculo Operário a missa está prevista para às 19h30 com Frei Ari da Piedade. Algumas Paróquias vão rezar também na intenção do sacerdote no mesmo dia em horários das celebrações nas comunidades. A Paróquia Nossa Senhora da Consolação no bairro Cintra também vai celebrar às 19h e convida a toda a comunidade para participar.
Padre Henrique Munáiz Puig de 86 anos faleceu no início da manhã do dia 19 de outubro na Santa Casa de Montes Claros. O Jesuíta estava com Leucemia Mieloide aguda, o diagnóstico também pegou a todos de surpresa. Natural da Espanha, cidade de Pontevedra, Henrique Munáiz Puig nasceu no dia de Natal, 25 de dezembro de 1930. Veio para o Norte de Minas nos idos de 1966. Desde então, sua missão e dedicação presbiteral foi com o compromisso social. Por onde passou deixou sua marca, a marca do amor ao próximo.
Você vai ler agora uma entrevista cedida pela diretora da Revista Tempo, Patrícia Silva que se diz apaixonada pelos trabalhos, missão e pessoa do Padre Henrique. No aniversário de 160 anos de Montes Claros, em um bate papo descontraído com a repórter Juliana Gorayeb, o jesuíta natural da Espanha, que ajudou milhares de jovens e operários norte-mineiros fala da sua vida e relação com a cidade que ele escolheu para viver e morrer.
Padre Henrique: a doação de uma alma de anjo “Minha alma é montes-clarense. Sinto-me em casa nesta terra”, afirma Padre Henrique Munáiz Puig. O sacerdote com mais de meio século de atuação em Montes Claros comemora o 160º aniversário da cidade, no dia 3 de julho, como lhe é de costume: com humildade, sensatez e muito trabalho em prol dos necessitados. São dezenas de obras fundadas pelo jesuíta, mais de mil jovens retirados diretamente do mundo das drogas através do projeto Nossa Senhora das Dores, e outros milhares de maneira indireta pelos centros educacionais São Luiz Gonzaga e Apóstolo Santiago, O Maior.
Uma equipe da Revista Tempo fez uma visita ao religioso na última terça-feira (27). A recepção diz muito sobre como o Padre Henrique encara a vida; encontramos um homem de sorriso no rosto, enxada nas mãos e coração aberto. Ele não abre mão do trabalho duro e, aos 85 anos, diz ainda ter muito a fazer pelas pessoas. “Eu vim aqui para trabalhar com os jovens e com os operários. Cheguei no ano de 1966 para estar junto aos dois segmentos da sociedade mais importantes para que ela esteja bem formada. O que posso fazer e quero continuar fazendo é apenas isso”, diz.
A humildade não permite que o Padre Henrique fale muito sobre si mesmo. Quando perguntamos sobre a obra e legado construídos por ele ao longo da caminhada no Norte de Minas, ele responde que é “apenas isto o que está aí”. O sonho do sacerdote de proporcionar aos jovens de Montes Claros uma educação de qualidade segue vivo e gerando bons frutos. Padre Henrique fundou o Colégio São Luiz Gonzaga, no Bairro Cintra. Diariamente, são quase 90 crianças que recebem educação básica e cerca de 90 jovens e adultos que têm acesso à Educação para Jovens e Adultos (EJA).
Ainda no centro educacional, funciona o projeto Nossa Senhora das Dores. O objetivo é acolher jovens que tentam se livrar do álcool e outras drogas, além de oferecer apoio psicológico e atividades que ensinam sobre cidadania. O projeto fez 25 anos em 2016 e assiste, atualmente, cerca de 200 adolescentes e seus familiares. No total, mais de mil pessoas foram acolhidas e curadas.
Não bastasse a semente plantada no Bairro Cintra, Padre Henrique construiu algo semelhante no Bairro Carmelo. O Centro Educacional Apóstolo Santiago – O Maior, oferece educação do primeiro ao quinto ano do ensino fundamental. Diariamente, estudam lá 85 alunos da região. Ao lado, fica a casa onde o religioso mora e acolhe pessoas necessitadas.
Além da obra social, Padre Henrique fundou a Igreja de Nossa Senhora da Consolação, no Bairro Cintra, a Igreja de Santa Rita, no bairro Santa Rita, Igreja de Nossa Senhora de Lourdes, no bairro de Lourdes e a Igreja de Nossa Senhora de Fátima, no Bairro Delfino Magalhães. Ele também colaborou com a fundação das ordens religiosas das irmãs Carmelitas e das irmãs Filhas de Jesus.
Para o religioso, todo o trabalho que desempenha cumpre com o propósito da Igreja Católica, no sentido de formar cidadãos que se preocupam com o bem. “A igreja traz valores que são próprios da sociedade. Constitui os indivíduos como seres que procuram o bem, crescimento, e é importante para a sociedade como um todo”, argumenta.
Na Casa Apóstolo Santiago – O Maior, Padre Henrique inaugurou em 2015 a Capela Apóstolo Santiago. A construção é uma homenagem aos 50 anos de trabalho do Padre Henrique em Montes Claros. O empresário Luís Pacífico acompanha o religioso há anos, fazendo doações para manter as obras fundadas pelo sacerdote. Segundo ele, colaborar com o legado do padre é aprender.
“O serviço do padre tem a ver com, literalmente, salvar crianças de entrar na criminalidade. É uma referência moral e espiritual para todos que convivem com ele. Ajudei a construir as escolas e a capela, pude ver o quanto ele é autêntico, sábio, desprendido do material. Tudo que doarmos a ele, será entregue às pessoas que precisam. É uma figura de grandeza que só tem a ensinar”, observa.
A engenheira Lúcia Melo mora nos Estados Unidos há anos. Lembra-se da avó colaborando com o sacerdote e faz questão de ajudar sempre que pode. Colaborou com o Centro São Luiz Gonzaga, com o Centro Apóstolo Santiago – O Maior e com a construção da capela. É o espírito de doação do padre que a motiva a se doar.
“É um espírito de doação total. Doa tudo de si, nada é para ele. A gente doa com a certeza de que nossa ajuda será multiplicada e que vai chegar realmente até quem precisa. Fico orgulhosa demais do trabalho dele. É muito bom saber que você ajudou e sua colaboração se torna uma coisa tão grandiosa”, observa.
Relação entre Padre Henrique e Montes Claros: Ao ser perguntado sobre a missão que cumpre em Montes Claros, Padre Henrique dá uma lição. Para ele, o mineiro tem consigo três valores que devem ser fortalecidos; trabalho frente às dificuldades, valorização da família e busca por liberdade. “A mim, como religioso, cabe formar os indivíduos para que sejam bons cidadãos. Santo Agostinho dizia que não há cidadão lá no céu que não tenha sido bom cidadão na Terra. Agradeço a Deus todos os dias por ter me dado esta missão. Ele me deu a chance de vir para cá. Me sinto muito cidadão de Montes Claros”, afirma.
Para o aniversário de Montes Claros, Padre Henrique faz votos para que as pessoas vivam umas pelas outras. “Que os jovens, principalmente, entendam que devemos estar um pelos outros, pois eles representam a força, o crescimento e o futuro. Eles definem como a cidade irá caminhar nos próximos anos. A juventude deve formar-se, preparar-se para a família e sociedade como um todo”, aconselha.
O empresário Rogério Souto Chaves se emociona ao se lembrar do que Padre Henrique representa para a família dele e para as pessoas necessitadas. Segundo Rogério, as lembranças que tem do padre vêm da infância. Ele é um dos colaboradores da obra do religioso há mais de 15 anos. “Lembro-me bem de ver o Padre Henrique andar de bicicleta, aquilo era inusitado para um padre. Comecei a ser um dos colaboradores dele na ação global que ele organiza no Dia de Nossa Senhora Aparecida. Depois disso, não dá para ficar de fora. É emocionante como uma pessoa pode se doar tanto. Já disse para ele que nessa Terra tem anjos, e ele é um anjo com certeza”, comenta.
O Padre Henrique retribui o carinho que vem dos colaboradores das obras que construiu com amor e gratidão. Para ele, as pessoas boas que moram no Norte de Minas é o que de mais marcante há na região. “O que mais me marcou em Montes Claros foram as pessoas de alto valor que encontramos. A força produtiva e criadora do nosso povo foi algo que me marcou. As coisas funcionam bem. Fatos extraordinários não temos. Somos uma cidade pacata e solidária, do bem”, diz.
Segundo o religioso, em Montes Claros está a família de que precisa para se sentir bem. “Aqui me sinto em casa. Minha família está aqui. Às vezes me perguntam se tenho saudades da Espanha, e respondo que não. Absolutamente nenhuma. Amo meu povo de lá, minha família, mas saudades como desejar estar lá ao lado deles, tristeza por estar longe não sinto. Fico muito bem aqui”, comenta.
História de vida: Padre Henrique Munáiz Puig nasceu na Espanha, em uma cidade chamada Ponte Vedra, no dia 25 de dezembro de 1932. A cidade marítima, de hábitos opostos ao sertão norte-mineiro, traz muitas lembranças ao religioso. “Me lembro de ir à feira comprar peixe e ver os animais ainda vivos nos cestos. Nós pegávamos para fazer o almoço. Como aqui é comum o boi, lá é o peixe. São costumes bem diferentes”, relembra.
Na infância, contou se lembrar de ver o pai ir para a Guerra Civil Espanhola. Morou com os avós no campo. Aos 10 anos foi matriculado em um colégio interno em Salamanca e, aos 16, veio a decisão de entrar na Companhia de Jesus, da Ordem dos Jesuítas. “Foi uma decisão precoce, mas já sabia o que estava fazendo. Era disciplinado, tinha boa formação. A decisão de me ordenar partiu de uma necessidade de entrar em comunhão com Deus”, conta Padre Henrique.
Em 1966, com 24 anos, Padre Henrique recebeu a notícia de que iria ao Brasil como sacerdote. O sonho era ir para a China, mas, em seu coração, a alegria do povo tropical já pulsava. “Me lembro quando terminei a Filosofia, o provincial me perguntou para onde queria ir. Respondi ‘China’ na hora, pedi para ir para lá. Ainda assim, quando descobri que viria para o Brasil fiquei alegre. Por que não? Eu viria satisfeito, era obediente. O Brasil também seria uma coisa muito boa”, diz.
Segundo o sacerdote, a musicalidade e histórias do Brasil o encantavam. Não conhecia o país. Ouvia falar do Rio de Janeiro, do carioca, do samba. “Conheci quando cheguei ao Brasil. Chegamos de navio. Ficamos no Rio alguns dias e me mandaram para Anchieta, no Espírito Santo. Cheguei lá dia 18 de setembro, dia 26 já estava ensinando História do Brasil, sem sequer falar direito Português. Me preparava antes, entrava na sala de aula e passava tudo que estava a absorver”, comenta.
Cantarolou músicas como “Ah, mas que saudades que eu tenho da Bahia”, de Gilberto Gil. Lembrou-se ainda de saber cantar, ainda na Espanha, o clássico de Luiz Gonzaga que faz menção ao sertão, e que talvez até ajude a caracterizar a terra onde o Padre Henrique, por força do destino, veio parar. “Não há, ó gente, ó não, luar como esse do sertão”.
Em 1966, Padre Henrique chegou a Montes Claros, no Norte de Minas, onde sempre morou desde então. Na cidade, morou no Bairro Vila Guilhermina, no Bairro Cintra, e atualmente no Bairro Carmelo, ao lado de um dos projetos sociais construídos por ele.
Perguntado sobre sua história de vida, o Padre Henrique responde que não há muito o que dizer. “Nasce e cresce como qualquer outro. A diferença é que vai para uma ordem religiosa, termina estudos em Teologia e é mandado para o Brasil para trabalhar. É apenas isto que está aí,”, afirma.
Sobre o contato com a família que ficou na Espanha, o padre conta que foi facilitado pelas tecnologias. Mesmo após 50 anos morando tão longe, diz ainda se sentir em casa quando visita o país de origem. “Nos falamos sempre que dá. Perguntamos como está, tenho notícias dos sobrinhos; uma se casou, outro se tornou sacerdote. Fico feliz em saber que estão bem. Vou lá uma vez a cada cinco anos, revejo todos, fico feliz e me sinto em casa. Vejo os companheiros, a alegria de ver nunca morre. Não é como se eu fosse um estranho. Somos família. É outra além da que fiz em Montes Claros”, afirma.
E em Montes Claros Padre Henrique conquistou, de fato, uma família de verdade, com milhares de filhos. Filhos do coração, que acolhe na casa em que mora nos momentos de dificuldades destas pessoas. Júnior Quaresma é um deles. Aproximou-se do padre quando passava pela pior fase da vida; começou a usar crack e se perdeu da própria família. “É o meu pai, uma das pessoas mais importantes da minha vida”, fala sobre Padre Henrique.
Júnior conheceu o padre quando ainda era criança. Conta ter visto o sacerdote ajudar muitas pessoas como ele. Chegou a ser internado em uma clínica de reabilitação e atribui a cura ao Padre Henrique e a Deus. “Através do padre, Deus me libertou. Quase dez anos depois de ter me amparado, hoje eu quero ajudá-lo também. Me preocupo com a saúde dele, vejo todos os dias se ele está bem. É uma pessoa muito boa, sincera. Se ele me fizer falta, vou sofrer muito”, diz.
Com Padre Henrique, Júnior aprendeu sobre jardinagem. Hoje trabalha com este ofício. Constituiu família, tem um filho de oito anos que chama o padre de “vovô”. Conta que a tranquilidade do sacerdote muitas vezes se transforma em pulso firme, firmeza que educa.
“Ele já me deu muito puxão de orelha e sempre respeitei. Hoje eu agradeço por isso, porque foi assim que aprendi. Era preguiçoso, não queria nada, hoje eu sou outra pessoa. Busco uma vida melhor por mim, minha esposa, meu filho. Quero que ele tenha um futuro melhor do que o meu e o padre é um exemplo para isso”, afirma o jardineiro.
Sobre o que representa para estas pessoas, o sacerdote acredita que faz pouco. Agradece a ajuda que recebe para desenvolver o trabalho. Segundo Padre Henrique, o que dizem sobre a figura dele não passa de um mito.
“Os mitos são fáceis de criar. Chegam aqui querendo saber, achando que sou alguém fora do normal, mas não sou. Tudo é dia-a-dia. Faço um pouco aqui, ali. Não consigo sozinho e nunca conseguiria. Quem leva a casa da juventude é gente muito preparada, formada, de muitas qualidades e coisas boas. Agradeço a Deus pelos que levam a obra d’Ele adiante. São pessoas muito dedicadas e entendidas do papel que devem ter como cidadãos. Um dia um menino perguntou ‘Padre, o senhor é daqueles que fazem exorcismo ou é normal?’. Respondi que sou normal, graças a Deus”, brinca. (Entrevista cedida pela diretora da Revista Tempo, Patrícia Silva que se diz apaixonada pelos trabalhos, missão e pessoa do Padre Henrique)
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