A fé cristã compreende que o ser humano é aberto à transcendência. Ele não é algo ou apenas alguma coisa, mas alguém, portanto, tem dignidade de pessoa. Ao afirmar que o ser humano é, por natureza, aberto à transcendência, a fé cristã quer dizer que entre todas as criaturas visíveis, apenas ele é capaz de conhecer e amar o seu Criador. Em outras palavras, está ordenado e chamado a viver em amizade com Deus.
O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, que é criado por Deus e para Deus; e Deus não cessa de atraí-lo a si, e somente Nele há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar, ensina o Catecismo da Igreja. Para o Concílio Vaticano II, o aspecto mais sublime da dignidade humana está nesta vocação à comunhão com Deus. Se o ser humano existe, é porque Deus o criou por amor e, por amor, não cessa de dar-lhe o ser.
Faz sentido entender que o desejo de Deus, presente em todas as pessoas, caracterizaria o ser humano como ser religioso, e o faria assumir diferentes comportamentos religiosos na relação com a pluralidade das culturas. Destarte, existe uma relação muito importante entre educação e transcendência. Isso porque cada estudante traz em si essa “busca natural de Deus” e, senão a maioria, uma boa parte explicita para além do comportamento religioso, uma opção de fé. Logo, o educador não pode renegar essa condição de seus alunos. É preciso considerar tal abertura à transcendência como caminho para uma experiência mais profunda do sentido da vida.
Nessa esteira, cada escola e universidade católica encontra meios para propor o conhecimento do Deus revelado por Jesus Cristo. Mesmo recebendo alunos não católicos ou não cristãos, a instituição católica de ensino anuncia o evangelho de Jesus Cristo fundamentalmente de dois modos. Primeiro: sem palavras. No silêncio da vivência radical dos valores do evangelho de Jesus. Todo o corpo de educadores, auxiliares e outros trabalhadores da educação em instituições católicas deveriam encarnar o estilo de vida cristão. Valem as palavras de São Francisco aos seus irmãos: “Preguem o Evangelho. Se preciso, com palavras”. Segundo modo de anúncio: com palavras. Sempre encontramos estudantes desejosos de conhecer mais profundamente a pessoa de Jesus. Consequentemente, haverá espaço em nossas escolas e universidades católicas para esse anúncio explícito de Jesus Cristo, como Senhor e Salvador.
Assim, a relação “educação e transcendência” é um dos eixos da educação de inspiração cristã católica. A qualidade da educação em nossas instituições não pode prescindir do fato de que os educandos são pessoas abertas à transcendência. Seria um grave equívoco desconhecer, esquecer ou negar esse traço fundamental da pessoa humana. E nenhuma liberdade é ferida quando Jesus Cristo é apresentado e descoberto por muitos dos estudantes que ainda não O encontraram. Os ensinamentos do Evangelho potencializam nas pessoas o bem que elas podem realizar em favor dos outros e da sociedade.
+ João Justino de Medeiros Silva
Arcebispo Metropolitano de Montes Claros