São Filipe Neri foi um sacerdote florentino que viveu parte de sua vida e ministério na cidade de Roma, no século XVI. Recebeu o cognome de Apóstolo de Roma e, também, de Santo da Alegria. Dedicou-se ao acompanhamento e formação dos jovens e fundou a Congregação do Oratório. Entre suas iniciativas mais conhecidas está o que ele denominou “il giro delle sette chiese” ou “o caminho das sete igrejas”. Tratava-se de uma peregrinação a pé que passava por sete importantes igrejas de Roma. Originalmente, a peregrinação era organizada em dois dias compreendendo a Basílica de São Pedro, a Basílica de São Paulo Fora dos Muros, as Catacumbas de São Sebastião, a Basílica de São João do Latrão, a Igreja de Santa Cruz em Jerusalém, a igreja de São Lourenço Fora dos Muros e a Basílica de Santa Maria Maior. Durante o itinerário, de uma igreja a outra, se rezava e se cantava. Nas igrejas, além das orações, se faziam momentos de catequese com os participantes.
Quando estudante, em Roma, nos anos 90, tive a oportunidade de fazer esse caminho com amigos. Nós o fizemos durante um dia inteiro e foi muito edificante percorrer as ruas da capital italiana como peregrinos, em oração e meditação. Foi numa quaresma e aquele dia foi também de preparação para a confissão sacramental. Inspirado por essa incrível experiência, convidei o Setor Juventude e outros representantes de jovens para organizarmos, aqui em Montes Claros, uma peregrinação inspirada em São Filipe Neri. Fiquei surpreso ao encontrar grande interesse dos jovens e imediata adesão ao projeto. Nasceu, assim, “o caminho das sete igrejas” como peregrinação quaresmal da juventude da arquidiocese, motivados pelo apelo: Jovem, vem e segue-me! (cf. Mt 9,9).
A programação, a ser realizada no dia 7 de abril, 5º domingo da quaresma, terá início às 5h (cinco horas) da manhã, na Igreja de São João Batista, Bairro Alto do São João, com a celebração eucarística e começo da peregrinação rumo à Igreja de São José, ao Santuário do Bom Jesus, à capela Nossa Senhora Medianeira, do Círculo Operário, à Igreja Senhor do Bonfim, dos Morrinhos, à Catedral Metropolitana de Nossa Senhora Aparecida, até a Matriz de Nossa Senhora da Conceição e São José, onde haverá o encerramento do trajeto.
“Caminho” é uma bela metáfora para a vida. Com efeito, a imagem do caminho é utilizada em narrativas de história de vida, quando a pessoa deseja ilustrar seu crescimento, suas quedas, sua recuperação, o desejo de permanecer numa direção ou de tomar outra. Por outro lado, em diversas religiões a peregrinação é utilizada como exercício de fé. No Antigo Testamento, a aventura de fé de Abraão se inicia com a ordem de caminhar: “Sai da tua terra” (Gn 12,1). Mais tarde, o povo hebreu, liderado por Moisés, faz o êxodo do Egito e caminha em busca da terra prometida. No Novo Testamento, o discípulo de Jesus é um caminheiro. Ele é chamado a colocar os seus pés onde Jesus tira os dele, denotando um seguimento atento e preciso. Jesus mesmo se apresentará como sendo o caminho que nos leva ao Pai (cf. Jo 14,6). Ele não quer ninguém parado, imobilizado, sem iniciativas para viver. Por isso, ordena ao homem doente à beira da piscina de Betesda: “Levanta-te, toma tua cama e anda” (Jo 5,8). Os Atos dos Apóstolos nos revelam o caminho feito pela Palavra, a história das comunidades primitivas. O apóstolo Paulo usa a metáfora da corrida (cf. Fl 3,12-14).
Que ninguém considere que já está no ponto de chegada. Discípulos de Jesus Cristo, somos como Ele, itinerantes no serviço de seu reino. À Maria, a mãe dos caminhantes, nós clamamos: vem conosco caminhar!
+ João Justino de Medeiros Silva
Arcebispo Metropolitano de Montes Claros