O rosto do laicato na Arquidiocese de Montes Claros

Para falar do rosto do laicato na Arquidiocese de Montes Claros, queria destacar três pontos fundamentais. Primeiro, estamos realizando no Brasil o 3º Ano Vocacional, com o tema “Vocação: Graça e missão!” e o lema “Corações ardentes, pés a caminho”. Esse tempo nos convoca a fazer uma reflexão sobre as vocações, incluindo a vocação laical ou do Cristão Leigo e Leiga, como gosto de dizer. A palavra “cristão” reafirma nossa identidade: somos cristãos a partir do nosso batismo, e o serviço laical na Igreja e na sociedade é uma vocação.

Depois, vários documentos da Igreja tratam da vocação laical. Dentre eles, destaco a Exortação Apostólica Christifideles Laici (CfL), de 1988. O Sínodo dos Bispos (1987) refletiu sobre o laicato e foi uma ocasião muito fecunda para repensar o Batismo como principal fonte de vida e missão para todos os cristãos, especialmente os fiéis leigos. Os documentos posteriores retomam várias destas reflexões.

Certamente, você, ao ler este texto, tenha feito uma pergunta que as pessoas sempre fazem: Leigo não é aquele que não sabe nada, não conhece nada sobre um tema? Não, essa é uma forma pejorativa de enxergar os leigos. A Christifideles Laici (n. 9) fala dos leigos retomando o Concílio Vaticano II: “Por leigos – assim os descreve a Constituição Lumen Gentium – entendem-se aqui todos os cristãos que não são membros da sagrada Ordem ou do estado religioso reconhecido pela Igreja, isto é, os fiéis que, incorporados em Cristo pelo Batismo, constituídos em Povo de Deus e tornados participantes, a seu modo, do múnus sacerdotal, profético e real de Cristo, exercem pela parte que lhes toca, na Igreja e no mundo, a missão de todo o povo cristão”. Mais recentemente, o Documento 105 da CNBB fala dos Cristãos leigos e leigas como sal da terra e luz do mundo.

Por que quis trazer esses documentos? Porque é assim que vejo o rosto do laicato na Igreja de Montes Claros: são homens e mulheres que estão inseridos nas diversas pastorais e movimentos, mantêm firme seu comprometimento cristão e alimentam uma religiosidade popular. Nas comunidades rurais, inclusive, onde há pouca presença dos padres, o laicato fiel está ali, sendo Igreja e organizando o povo nas pastorais, movimentos e diversos serviços internos da Igreja.

Mas uma das belas características do laicato de Montes Claros é ser sinal do Deus Vivo na sociedade. Hoje, grande parte das ONGs e das políticas públicas na cidade se mantém efetiva graças à força desse laicato. Estamos presentes nos diversos conselhos de direitos, na luta em defesa dos direitos e da vida, nos espaços de políticas públicas, na organização do povo, nas parcerias com organizações da sociedade civil. Vemos cristãos leigos e leigas comprometidos com a política, com a luta pela preservação do cerrado, com a geração de trabalho e renda, com a organização das mulheres. A partir daí, posso destacar a beleza desse laicato, sujeito maduro na fé, atuante na Igreja e na sociedade.

Engana-se quem pensa que a Igreja não discute nem faz política. A política é um campo privilegiado de atuação laical. Diz o Documento 105 (n. 263): “No mundo da política, sendo missão do cristão leigo direcionada de modo especial para a participação na construção da sociedade, segundo os critérios do Reino, três elementos são fundamentais: formação, espiritualidade e acompanhamento”. Para isso existe o Conselho de Leigos da Arquidiocese.

Vê-se que temos feito muita coisa, mas ainda precisamos avançar muito. Após a pandemia, temos encontrado um laicato mais voltado para dentro da Igreja. O Papa Francisco critica muito esta postura e diz que, se o laicato fortalece o clericalismo, corremos o risco de perder a beleza e a centralidade da missão da Igreja. Esse apelo move nossa atuação como cristãos leigos e leigas nas realidades arquidiocesanas.

Portanto, falar do cristão leigo na Arquidiocese de Montes Claros é falar de um rosto alegre, norte-mineiro, geraizeiro, sempre pronto para servir, rosto samaritano presente onde a vida está ameaçada, rosto profético que denuncia as injustiças e não se cala diante delas, rosto missionário que está ali, sendo sal da terra e luz do mundo nas pastorais, movimentos, serviços e lutas em favor da vida.

Sônia Gomes de Oliveira*
Presidente do Conselho Nacional do Laicato no Brasil e
Leiga da Paróquia de Nossa Senhora da Consolação em Montes Claros/MG
Arquidiocese em Missão

*No dia 7 de julho de 2023, Sônia Gomes de Oliveira, foi escolhida para participar da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, cuja primeira sessão da fase da etapa universal acontece de 4 a 28 de outubro deste ano, em Roma. (Clique aqui e saiba mais).

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