O Tempo Comum é o período mais extenso da vida litúrgica da Igreja e se divide em duas partes de tamanho desigual. Conforme a 3ª edição típica do Missal Romano, ele compõe-se de trinta e três ou trinta e quatro semanas, ou seja, mais da metade do ciclo anual. A primeira parte começa após a Festa do Batismo do Senhor e vai até o início da Quaresma. A segunda inicia-se após o domingo de Pentecostes e termina no sábado antes do primeiro domingo do Advento, contando essa com o maior número de semanas.
Devido seu longo período, há um grande risco de torná-lo apenas rotineiro, sem muita significância, visto que o calendário litúrgico da Igreja é permeado por grandes Festas e Solenidades. Para evitar isso, podemos nos inspirar em um dos grandes ensinamentos do escritor inglês G.K. Chesterton. Ele insistia que em nosso tempo precisamos viver o ordinário de tal forma que ele se torne extraordinário. Nisso se encontra o sentido espiritual do Tempo Comum: um convite para entrar no mistério das “pequenas grandes coisas” que acontecem no nosso dia a dia. Um convite para valorizar o seguimento a Jesus no ordinário da vida.
O Tempo Comum é, portanto, a escola do cotidiano. Nessa escola, compreendemos que o seguimento ao Senhor é sim marcado por momentos fortes, tais como as grandes Solenidades e Festas. Contudo, essa escola nos faz rememorar que esse seguimento é, sobretudo, marcado pelo ordinário de nossas vidas, pelas coisas simples e comuns. O “comum” não pode nos escapar, não pode deixar de ser vivenciado com a força e a alegria do Evangelho. Essa escola nos faz redescobrir a graça do comum. Faz-nos ver que a vida quotidiana é também tempo de salvação.
Ademais, não podemos esquecer que o Tempo Comum é um tempo da vida e da santidade “ao pé da porta”, que se torna anúncio de Boa Notícia. Nele acompanhamos o Mestre de Nazaré, que passou fazendo o bem e anunciando que Deus era próximo e que Seu reino era de proximidade (cf. Mt 10,5-15). Ao exemplo d’Ele e dos apóstolos, todos nós somos chamados a sermos santos no cotidiano e missionários desta Boa Nova. Parafraseando o papa Bento XVI: quem descobriu Cristo caminhando consigo no ordinário de sua vida, deve levar os outros a também percebê-lo em suas vidas. Eis uma grande alegria que não podemos guardar para nós mesmos. É justo e necessário que a transmitamos. Vivamos, pois, esse tempo como escola de discipulado, graça e missão.
Seminarista John Winston Sá
IV Ano da Etapa Configurativa do Seminário Maior Imaculado Coração de Maria
Equipe Arquidiocese em Missão