Somos um povo de peregrinos, vivemos a caminho. Atraídos por Aquele que nos criou, transitamos em sua direção, onde encontraremos a consumação da obra que ele mesmo começou em nós. Com efeito, as nossas peregrinações e procissões fazem memória da grande marcha que empenhamos em nossa existência. Um ato exterior que evoca a profundidade existencial da humanidade. O caminho empenhado pelo peregrino é espelho do trânsito de toda sua existência. Cada passo dado faz aumentar o desejo e torna mais concreto o atingimento da meta. Como o salmista, o coração do peregrino se alegra desde o convite recebido para ir ao encontro do Senhor (cf. Sl 122).
O ato de peregrinar nos recorda que é preciso viver da esperança enquanto caminhamos em direção à consumação final no coração do próprio Deus. É o que acontece ao nos dirigirmos ao Santuário Arquidiocesano, um lugar consagrado ao título do Senhor do Bonfim. Quando para ele nos dirigimos colocamo-nos em marcha com Jesus para Jerusalém, e nessa peregrinação, aprendemos com Ele e dele o caminho de compromisso da cruz pelo qual alcançaremos a ressurreição.
O Santuário Arquidiocesano Senhor do Bonfim de Bocaiuva, primeiro de nossa Igreja Particular, foi instalado solenemente por Dom José Carlos, aos 09 de julho de 2023, concretizando um sonho, fruto de uma história com mais de três séculos de devoção. Esse sonho havia ganhado novo impulso no dia 14 de setembro de 2021, com a publicação da carta de anúncio da criação do Santuário, pelo então arcebispo metropolitano, Dom João Justino.
Olhando para o Senhor do Bonfim, somos interpelados por Aquele que escolhe a grande via paradoxal do amor para tocar as consciências humanas. A glória do Senhor, assim, se manifesta na salvação oferecida através da extrema oblação de seu Filho na cruz. “Eles olharão para mim”. Fixemos, pois, nosso olhar em Jesus, o Senhor do Bonfim. N’Ele vemos o Deus-amor, que faz do maior fracasso humano, a morte, sua grande vitória. Com efeito, por meio de sua cruz tocamos a glória de Deus.
A carta de anúncio da criação do Santuário Arquidiocesano dizia que ele deveria ser qual uma enorme cruz plantada no centro da Arquidiocese, a apontar para a misericórdia de nosso Deus, cujo Filho nos amou e por nós se entregou (cf. Gl 2,20). Para lá todo o povo da Igreja Particular de Montes Claros é convidado a se dirigir, como peregrinos, buscando se alimentar da espiritualidade da Cruz. Ecoa, portanto, em nossos corações, o convite do profeta: “Vinde, subamos à casa do senhor” (Is 2,3). Como peregrinos, membros de uma Igreja que testemunha a vida que brota da cruz neste grande sertão norte-mineiro, subamos, com alegria, à casa do Senhor.
Pe. George Luís Cardoso Silva
Equipe Arquidiocese em Missão