“Artífices da revolução da ternura”

Um dos conceitos trazidos pelo Papa Francisco na Exortação Apostólica Alegria do Evangelho (n. 88) é o da revolução da ternura. Para o Santo Padre é esse o convite que ressoa na vida de toda a criação, principalmente a partir da encarnação do Filho de Deus. Na mensagem para o II Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, que celebraremos amanhã, o Papa argentino reafirma que os avós e os idosos têm papel importantíssimo como protagonistas de tal insurreição.

Se Amar é a única revolução – como nos afirmam Anselm Grün, Gerald Hüther e Maik Hosang – sendo responsável pelos grandes saltos evolutivos biológica, social e espiritualmente, são os idosos, sobretudo os avós, verdadeiras escolas de ternura. Isso porque, trazendo em si as marcas do tempo e do aprendizado, não se mostram senão como portadores do essencial. Desapegados de vaidades, eles se deparam com o estoque de amor que ajuntaram no decorrer dos anos, enquanto se dedicavam às “coisas mais urgentes”, correndo contra o tempo, como o coelho da obra de Lewis Carroll.

Agora, mais maduros, voltam-se à verdadeira e revolucionária urgência: amar! Por isso, comumente se escuta dizer que as avós e os avôs são pais e mães com açúcar. Eles entenderam que o amor não deve ser dado como causa segunda, como fruto de um merecimento, de uma tarefa cumprida, mas como modo de se existir no mundo, afinal, somos imagem e semelhança (cf. Gn 1,26-27) de um Deus que é amor (cf. 1Jo 4,8b). Eles são mestres do olhar, do caminhar e do falar sem pressa, chamando-nos a atenção para as coisas incalculáveis e nos ensinando a serenidade.

Como escolas de ternura, os idosos e avós atuam como artífices – com fazedura manual, com toques, ora precisos ora trêmulos, fazendo ecoar um brado de resistência contra uma cultura do descartável, que instrumentaliza e troca o calor dos abraços por luzes gélidas dos aparatos tecnológicos. Para tanto, devem buscar caminhos que proporcionem um verdadeiro e profundo projeto de existência. Nesse sentido, que outro caminho seria melhor se não aquele que nos permite entrar em contato com a Fonte do amor e pelo qual podemos haurir e alimentar a nós e ao mundo? Tal caminho é a oração.

Não apenas aquele volumoso tesouro que nós católicos temos, mas, como o Papa, reafirmamos a necessidade de nos tornarmos poetas da oração, dizendo-nos a Deus e dele acolhendo as forças e o sentido para sermos artífices da revolução da ternura. Só assim poderemos empreender uma revolução que diz não à violência, às armas, às mortes, aos abusos – de poder, de corpos, e de mentes… Uma revolução que faz brotar uma verdadeira família, em que todos têm lugar à mesa, tem voz e vez. Esses são os frutos, que, mesmo na velhice, somos chamados a dar (cf. Sl 92,15).

Assim, como artífices de uma civilização do amor, todos somos chamados a ecoar a Palavra de Deus como profetas, especialmente os idosos e os avós, expulsando os males da divisão, do esquecimento, do utilitarismo e da violência. Nada soa melhor que as palavras finais do Papa Francisco em sua mensagem para esse Dia Mundial: Peçamos a Nossa Senhora, Mãe da Ternura, que faça de todos nós dignos artífices da revolução da ternura para, juntos, libertarmos o mundo da sombra da solidão e do demônio da guerra.

 

Equipe Arquidiocese em Missão
Arquidiocese de Montes Claros

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