Mineração

“O meio ambiente é um bem coletivo, patrimônio de toda a humanidade e responsabilidade de todos” (Laudato si’, 95).

Nos últimos tempos, o papa Francisco tem nos convocado para o cuidado com a Casa Comum. Ele nos pede um compromisso com a Ecologia Integral, e muitos podem perguntar: o que é Ecologia Integral? O papa Francisco, em sua simplicidade, explica: “É como uma teia de vida em que tudo está interligado” (LS, 138), que engloba diversas áreas, como a biologia, a geologia, as ciências humanas, sociais, econômicas e outras.

Nos últimos anos, temos visto crescer a necessidade de assumir esse cuidado, seja por conta das queimadas, do desmatamento, das mudanças climáticas que têm causado inundações, desastres ambientais e destruições. Juntamente com isso, temos visto crescer as atividades minerárias, que têm causado impactos negativos na vida das comunidades.

O Estado de Minas Gerais tem sido um dos grandes protagonistas nesse cenário. É importante esclarecer que o Norte de Minas está nesse contexto político de flexibilização das leis ambientais e de desmanche dos processos de licenciamento ambiental. A Região Norte tem despertado a cobiça de grupos internacionais que já atuam aqui e de outras empresas que vêm chegando em nome de um “novo desenvolvimento”, às custas das populações tradicionais, com riscos à saúde e às vidas de muitas pessoas.

As comunidades hoje têm feito um enfrentamento e pedido socorro contra as novas investidas do setor minerário, que pretende transformar o Norte de Minas num novo polo minerário, com anuência das secretarias do governo do Estado. Isto nos remete ao que foi aqui na década de 1960-1970. Foram implementados, com investimentos estatais, projetos de irrigação, monocultura de eucalipto e barragens. Tais políticas provocaram um fluxo migratório para as cidades e, com esse olhar para o passado, é que hoje chamamos atenção para este processo da mineração.

A grande preocupação é que esses projetos querem fazer uma exploração mineral que não leva em conta a natureza, o ser humano e a realidade da região semiárida onde estamos localizadas. Muitas ações das empresas mineradoras são marcadas pela violação dos direitos humanos das populações indígenas ou originárias, tradicionais. Atuam sem uma consulta prévia às comunidades. Não queremos dizer que somos contrários à mineração. Sabemos que muitos dos nossos equipamentos de uso diário dependem desse processo, mas é preciso pensar em um modelo que possa ser menos agressivo à natureza e à vida humana.

Reiteramos o que foi dito pelos bispos em carta:  “A atividade mineradora no Brasil carece de um marco regulatório que tire do centro o lucro exorbitante das mineradoras ao preço do sacrifício humano e da depredação do meio ambiente com a consequente destruição da biodiversidade” (Nota da CNBB sobre o rompimento da Barragem de Fundão, 25/11/2015).

Por isso é urgente uma conversão ecológica como nos pede a Laudato si’, pensando na Ecologia Integral na perspectiva de superar a cultura capitalista que coloca o lucro acima da vida. Precisamos nos fortalecer como cuidadores da Casa Comum. Isto passa pela organização coletiva e pelo diálogo. “Que o nosso seja um tempo que se recorde pelo despertar duma nova reverência face à vida, pela firme resolução de alcançar a sustentabilidade, pela intensificação da luta em prol da justiça e da paz e pela jubilosa celebração da vida” (LS, 207).

A história atual e o destino nos obriga a procurar um novo início. O processo minerário, se não for revisto com o olhar da Ecologia Integral, que interliga e que passa por uma interligação e o cuidado com todos, temos que nos  perguntar: que tipo de planeta queremos deixar para aqueles que  virão? Por isto recordo o texto de Romanos: “Toda a criação, até o presente, está gemendo como que em dores de parto” (Rm 8, 22).  Sejamos, pois, capazes de nos unir para pensar um novo modelo de cuidado e de proteção. Não cuidar da Casa Comum é uma ofensa ao Criador, um atentado contra a biodiversidade e, definitivamente, contra a vida (DAp, 125).

 

Sônia Gomes de Oliveira
Presidente do Conselho Nacional Do Laicato Do Brasil (CNLB)

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