Misericórdia

A misericórdia é própria de quem tem compaixão, ou seja, sabe sentir a dor e a necessidade do semelhante. Diz-se até: “Se a dor do outro não doer em mim… eu desconheço o amor”. Se Deus não tivesse compaixão e misericórdia da humanidade, o Filho não teria vindo a fazer o que fez, dando até a última gota de si para nos regenerar e salvar.

A compaixão não é simples dó em relação ao sofrimento e às dificuldades do semelhante. Pode-se ter dó e não se mover um dedo para ajudar a quem precisa. Até um sorriso pode ajudar a quem precisa de atenção e valorização. Dar a mão a quem está caído, realizar obras de bem, promover a justiça, a verdade e a paz conotam o ser de quem tem dignidade e pratica a promoção do semelhante.

A perspectiva da fé nos envolve no segredo do amor do Filho de Deus, a ponto de fazermos tudo para a retribuição do amor dele para conosco. O próprio Jesus ensina que o fazer algo ao outro por causa Dele é o mesmo que servir a Deus. Vai ser retribuído infinitamente mais.

No agradecimento ao Criador por seu amor a nós se dá a justiça divina, ou seja, só somos justos se amarmos a Ele na conjugação do amor ao próximo. Assim se vive a misericórdia. Quem é misericordioso não revida a agressão agredindo. A autodefesa é necessária, mas não pode extrapolar o tamanho da agressão recebida. A vingança é desumana e cruel. Quem tem o caráter formado com espírito de compaixão não faz qualquer tipo de guerra.

Não posso, por exemplo, matar uma família inteira porque um membro seu matou alguém do meu convívio. Não é próprio de quem tem a sabedoria misericordiosa matar um ideal de vida, sufocar uma verdade ou uma atitude não bem compreendida. A virtude da paciência ajuda a acalmar os sentimentos negativos em relação ao semelhante.

A humanidade seria mais humana e teria mais solidariedade com a prática diuturna da misericórdia. O próprio Divino Mestre ensina que alcança misericórdia quem é misericordioso! Nessa perspectiva se encontra bem assentado no coração o saber perdoar de todo o coração, como Jesus faz e ensina.

Precisamos desenvolver nas pessoas, famílias e em todo o convívio humano a formação do caráter para ser compassivo e misericordioso. Quem sai ganhando, em primeiro lugar, é a própria pessoa que sabe amar, dar vez e compreender as necessidades e os limites dos outros. É grande quem sabe servir e não apenas quer ser servido e estimado!

Dom José Alberto Moura
Arcebispo Emérito de Montes Claros

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