A Igreja, por meio da Liturgia do 4º Domingo da Páscoa, Domingo do Bom Pastor e Dia Mundial de Oração pelas Vocações, nos convida à profunda sintonia com a voz de Deus por meio da oração. Desde os primórdios do mundo, é pela oração que podemos dialogar com Deus, que se comunica por intermédio da Palavra proclamada em cada Eucaristia e em nossos momentos de proximidade com Ele. As Sagradas Escrituras nos direcionam para esse momento de intimidade com o Senhor, (cf. Fl 4,6) nos ensinando que devemos rezar para demonstrar amor ao nosso Deus (cf. 1Ts 5,18), para nos sentirmos mais conectados a Ele (cf. sl 64,2-3), para expressar gratidão por todas as graças que nos concede diariamente e para pedir ao Deus da vida forças para nossas horas de tribulação (cf. Mc 11,24).
É por isso que, ao se falar de animação vocacional, o primeiro objetivo passa a ser o de intensificar a prática da oração pelas vocações em todos os âmbitos: pessoal, familiar e comunitário[1]. O trabalho da animação vocacional deve gerar em nós a consciência de que Deus nos chama e nos envia, através da vocação primeira que é o chamado à vida. Nós, cristãos católicos, devemos nos colocar de prontidão ao serviço da messe, como leigos e leigas, vivendo no mundo, chamados a ser sal da terra e luz, seja no matrimônio ou como solteiros, abrindo-se ao amor com intensidade. E, ainda, como vocação específica para a vida consagrada, para o ministério ordenado, como bispos, padres e diáconos da Igreja, para que sejam semelhantes ao Bom Pastor. Essa consciência é adquirida por meio da intimidade que surge com o próprio Deus e seu projeto salvífico, só alcançável através da prática da vida de oração.
Temos vivido uma realidade eclesial de grande carência da consciência vocacional. Veja bem, não há carência de vocações – elas permanecem latentes e vívidas, renovadas a cada batismo realizado em nossas celebrações. O que tem sido escasso é o ânimo vocacional, o ardor pela missão que nos foi confiada por Deus. Como dissemos, toda vocação contempla ao mesmo tempo um chamado e uma resposta. Esse diálogo só é possível quando, por intermédio da oração, acessamos o coração amabilíssimo do Deus que nos chama a realizar seus sonhos para nossa vida desde nossa criação.
O próprio Deus nos ensina o que devemos fazer: “Pedi ao Senhor da messe que envie operários para a messe, pois a messe é grande e os operários são poucos” (Mt 9,37-38), assim, enquanto o diálogo pessoal com Deus é o caminho para responder ao chamado, é dever da comunidade de fiéis acessar a misericórdia do Senhor da messe para que lhe suscite os melhores e mais valorosos operários.
Na mensagem do santo Padre, o Papa Francisco, para o LXI Dia Mundial de Oração pelas Vocações, ele nos exorta que “a escuta da chamada divina, longe de ser um dever imposto de fora – talvez em nome de um ideal religioso –, é antes o modo mais seguro que temos de alimentar o desejo de felicidade que trazemos no nosso íntimo”. Portanto, resta claro que o projeto de Deus para cada um de nós por meio do chamado vocacional é o despertar da felicidade que se encontra enraizada em nossos corações. O convite do santo padre é esse, voltar para nosso interior, onde Deus habita e onde podemos sentar e falar com Ele sobre nossos sonhos e nossas necessidades, fazendo uso da oração pessoal fortalecida pela comunidade, já que é a oração a ferramenta essencial no plano de salvação e que nos eleva a colaboradores de Deus em seu projeto.
Quem primeiro entendeu a vocação como reflexo do diálogo com Deus, foi Maria, mãe santíssima, que por tanto e por tudo, é também mãe das vocações. Ela que nos ensinou a fazer tudo que Ele nos disser (cf. Jo 2, 1-11), ela quem guardou em seu coração cada passo da missão de nossa fonte vocacional, o Cristo. Ela que é exemplo para as mães de todo mundo e para a Igreja, nossa mãe, que conduz pelo silêncio orante e perseverante a vocação de seus filhos amados. É em Maria que apoiamos nosso olhar de filhos em busca do SIM que agrada a Deus.
Que a mãe de Jesus, Maria, mãe das vocações, nos ensine que sem a oração não existe autêntica vida vocacionada.
Kelly Katielly Santos Zuba
Secretária do Serviço de Animação Vocacional – SAV Moc e Representante leiga na coordenação do SAV/PV Leste 2
[1] Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada / 3°AnoVocacional do Brasil – Vocação: Graça e Missão -Texto-base. Brasília: Edições CNBB, 2022.