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Sentir-se intimamente consolado para transbordar a consolação de Deus

A origem da festa de Pentecostes tem raiz na tradição hebraica, que significa semanas. Trata-se de uma celebração de ação de graças a Deus pelas colheitas cinquenta dias após a Páscoa. Na mística do Novo Testamento, essa celebração marca o derramamento do Espírito sobre a vida e a missão dos discípulos, cinquenta dias após a Ressurreição de Jesus, capacitando de maneira eficaz a vida dos seguidores do Cristo para a proclamação da salvação por meio da mensagem evangélica (At 1,8).

A espiritualidade do Concílio de Constantinopla, realizado em 381, nos oferece um conhecimento sobre a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Declarando que é Deus, o doador da vida que procede do Pai e do Filho, e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado. Assim, a Igreja destina o culto de adoração, uma vez que possui a mesma “substância” que o Pai e o Filho.

A promessa de Jesus consola os corações dos seus amigos com o envio do Paráclito, que virá por parte do Pai (Jo, 15,26). Jesus promete o Dom do alto, por isso ensina os seus a pedir ao Pai em seu nome: “Pedi e recebereis”. A dimensão do vocábulo Paraclito converge em dois significados: aquele que nos consola (consolador) e que nos defende (advogado).

O salmista constata que a nossa alma tem sede de Deus, “como a corça suspira pelas águas, por Ti Senhor suspiro eu” (Sl 42,1). O homem carrega dentro de si a necessidade de se encontrar com o doce hóspede do interior do interior. Jesus demonstra em suas ternas e consoladoras palavras que, se o amarmos e guardarmos os seus mandamentos, O Pai e o filho farão em nós a sua morada.

O nosso corpo é sede do Altíssimo e nós somos templos vivos do Espírito. Se numa pergunta simples interrogasse-nos “qual seria a nossa morada?”, se fôssemos capazes de refletir, sem pressa, a essa questionadora e profunda indagação, responderíamos: Eu moro no meu corpo, templo onde habita Deus. Uma canção católica reza essa realidade tão profunda: “Quando eu sou o sol a transmitir a luz e meu ser é templo onde habita Deus, todo céu está presente dentro em mim…”

No discurso de despedida, Jesus consola os seus que permaneceriam no mundo, garantindo que não os deixaria órfãos. “No mundo tereis tribulações, mas tende coragem, eu venci o mundo” (Jo 16,33). O Espírito Santo é a presença que nos abraça em meio as tribulações e desolações deste mundo. Há certas dores e vazios que só Deus preenche.

Cristo fala de uma alegria duradoura que não nos será tirada.  As consolações às quais muitas vezes recorremos não tocam na raiz da nossa essência. Temos fome de Deus. O Espírito Santo, o amor do Pai e do Filho, age no mais íntimo e profundo de nós. Desce, abraça e consola o íntimo dos corações. Ele se apresenta como o sopro da ternura de Deus, que não nos abandona em meio às mais fortes e desoladoras tribulações.

A presença do Espírito grita que o amor de Jesus não está distante e nem separado de nós. O coração humano não suportaria a presença da ausência de Deus. São Paulo nos ensina a ser dóceis à ação do Espírito Santo. Ele é a nossa oração perfeita, pois, às vezes, não sabemos o que pedir nem como pedir. Por isso ele vem em socorro da nossa fraqueza (Rm 8,26). Ele nos leva a conhecer a nossa filiação adotiva, quando nos faz clamar e reconhecer “Aba, o Pai” (Rm 8,16).

O coração, quando acolhe o amor de Deus, vai se abandonando nessa experiência do alto, em que o nascer de novo torna-se o desejo profundo da alma, levando o ser humano a perceber que o Espírito que o habita é forte. O Pai nos concede um espírito de fortaleza, amor, prudência e não de timidez (2Tm 1,7).

Olhemos com confiança e entrega para o silencioso e providente agir de Deus. Os apóstolos estavam reunidos no cenáculo, sozinhos, desolados e fragmentados. Nem todos estavam no mesmo lugar. A ausência de Tomé nos alerta que o estar juntos é fundamental para que a comunidade se fortaleça. A fragilidade dos apóstolos, o sentimento de abandono e culpa, são acolhidos pela presença misericordiosa do Pai, que, ao ressuscitar o Filho, sopra e envia o Espírito Santo e o dom da paz.

Perceba que essa mesma paz não é ausência de dificuldade, mas uma mudança de vida e de mentalidade. Os discípulos, em suas fraquezas, são transformados de tal forma que o único medo que os acompanha é o medo de não testemunhar o amor recebido e, assim, perder a vida no Cristo.

Chegará a hora, e a hora já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão em espírito e em verdade (Jo 4,23).  Permitamos que a nossa experiência humana nos leve a buscar os caminhos do Senhor. Que a cultura de Pentecostes abrace a nossa natureza para que, abertos à sua ação, recebamos os dons, carismas, ministérios e seus frutos e que a sua presença neste mundo seja instrumento deste amor que circula em meio às nossas imperfeições, a fim de que o humano tenha consciência de que é filho de Deus, morada do Espírito.

Padre Fernando Soares de Almeida

Vigário Paroquial na Paróquia Mãe Rainha / Montes Claros – MG

Assessor Eclesiástico da Renovação Carismática Católica (RCC)

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