Receber as relíquias de Santa Teresinha[1] é um momento de grande renovação espiritual. A veneração das relíquias de um santo, no caso da Santa Carmelitana proclamada Doutora da Igreja Católica, não é um cortejo fúnebre, mas um momento de louvor a Santíssima Trindade, que pelo dom do Batismo chama toda criatura humana à possível aventura da santidade. Vale ressaltar que a santidade não é coisa do passado ou para alguns, é para hoje e para todos!
Santa Teresinha pautou sua existência em um profundo amor a Jesus Cristo e na leitura da Bíblia; em um momento de sua existência, todos os livros para ela eram enfadonhos e cansativos, assim escreve no Manuscrito A: “É sobretudo o Evangelho que me sustenta nas minhas orações; nele encontro tudo o que é necessário para minha pobre alminha. Sempre descubro novas luzes, sentidos ocultos e misteriosos…”. Ela encontrou na Palavra de Deus, na Eucaristia e no amor à Virgem Maria o segredo de seu “caminho novo”, a infância espiritual, caminho baseado na confiança total na misericórdia divina e no abandono.
Em uma de suas cartas ela diz: “Se todas as almas fracas e imperfeitas sentissem o que sente a menor de todas as almas, a alma da vossa Teresinha, nenhuma perderia a esperança de atingir o cimo da montanha do amor, pois Jesus não pede ações grandiosas, apenas o abandono e a gratidão”. E ainda na mesma carta: “compreendo muito bem que só o amor pode nos tornar agradáveis a Deus, e este amor é o único bem que ambiciono. Jesus se compraz em me mostrar o único caminho que conduz a esta Fornalha divina. Este caminho é o do abandono da criancinha que adormece, sem temor, nos braços de seu pai… A misericórdia é concedida aos pequenos.” (Carta 196).
Nessa carta de Santa Teresinha, escrita a pedido de sua irmã Maria do Sagrado Coração, encontra-se como que um resumo do seu “caminho novo”, a pequena via, que não foi uma graça concedida unicamente à Santa Teresinha, mas a toda a Igreja, que na época vivia sob influência do Jansenismo[2]. Santa Teresinha “descobre” e revela para toda a humanidade uma faceta do Evangelho, o amor misericordioso, a confiança e o abandono a esse mesmo amor.
As relíquias de Santa Teresinha estiveram no Brasil e em Montes Claros 25 anos atrás. Portanto, não é algo que acontece com frequência. Usufruamos de todos os dons e graças desse momento singular em nossa Arquidiocese. Santa Teresinha prometeu passar o seu Céu fazendo o bem na terra, enviando uma chuva de graças. Aproximemos dessa jovem carmelita, doutora da Igreja e padroeira das Missões. Ela que, desde a clausura do Carmelo de Lisieux, na França, fez uma experiência tão profunda de amizade com o Cristo Jesus que foi impossível ficar oculta. É uma das santas mais populares. Vale ressaltar que a família de Santa Teresinha é modelo de família cristã. Seus pais foram canonizados e a sua irmã, Leônia, que ingressou na Congregação das Irmãs Visitandinas, encaminha-se em processo para canonização.
Mais uma vez, afirmo: a santidade não é coisa do passado! Corramos pressurosos(as) na busca de uma comunhão e amizade sempre mais crescente com Jesus Cristo e com o auxílio de sua Mãe, a Virgem Maria, e da “grande” pequena Teresinha, possamos dar testemunho de uma vida Santa, fazendo a cada instante o que devemos fazer no ordinário da vida, proclamando a simplicidade do Amor de Deus que é para todos! Sejamos canais desse amor que transforma e santifica! Sejamos Santos!
Santa Teresinha mostra para todos nós um caminho de santidade possível, sem nada de extraordinário; a vida de Santa Teresinha foi extremamente simples, com as lutas próprias de toda criatura humana; o seu caminho é acessível a todos; ela viveu com profundidade tudo o que era concreto de sua existência, iluminando tudo com a caridade pura, retirada da palavra de Deus, que era transmitida em sua convivência fraterna com as irmãs e no seu amor e zelo a serviço da Igreja. Ela encontra o sentido e a razão de sua existência na vivência pratica da caridade. “No coração da Igreja, minha mãe, serei o Amor! Assim serei tudo…” (Santa Teresinha).
Irmã Maristella do Espírito Santo, OCD
Carmelo Maria Mãe da Igreja e Paulo VI – Montes Claros/MG
Referência: Obras completas e últimos colóquios/Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face. São Paulo: Paulus, 2016. [1] As relíquias são partes do seu corpo: osso do fêmur e ossos dos pés. [2] Cornélio Jansen, interpretando erroneamente a doutrina de Santo Agostinho a respeito do livre-arbítrio, da graça e da redenção, reduz ou nega totalmente no homem a capacidade de aspirar ao bem e a liberdade de aceitar ou não a graça, que permaneceria um dom exclusivo de Deus para aquela parte dos homens que foi escolhida por Ele para a salvação.