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115 anos da Diocese de Montes Claros: O Senhor fez grandes coisas em nosso favor!

Guardar a memória do passado da Igreja Particular de Montes Claros nos parece algo muito importante. É tomar conhecimento das maravilhas que Deus, através da ação do Espírito Santo, tem realizado na história de nossa Igreja arquidiocesana, inserindo-a na História da Salvação.

A Diocese de Montes Claros, elevada à dignidade de Arquidiocese em 2001, localizada no Norte de Minas Gerais, foi criada pela Bula Pontifícia Postulat Sane do Papa Pio X, de 10 de dezembro de 1910. Dentre os motivos que ocasionaram a fundação dessa diocese está a grande extensão territorial confiada ao então bispo da Diocese de Diamantina, região do Norte de Minas, isolada durante a jurisdição dos bispos da Bahia. A vastidão territorial sujeita ao bispo Dom Joaquim Silvério de Sousa (1905-1917) e as condições adversas à atividade pastoral tornavam impossível o atendimento espiritual e a evangelização das populações espalhadas pelo interior dessa região. Contribuiu também a escassez de clero local; e os poucos que existiam não apresentavam o zelo necessário para exercer suas obrigações. Aos religiosos premonstratenses belgas presentes na cidade de Montes Claros coube a maior parcela de contribuição para a organização da sede da diocese recém-criada. Para ser o seu primeiro bispo, o Papa Pio X nomeou D. João Antônio Pimenta, que, naquela ocasião tinha sido transferido de Porto Alegre-RS, onde estava como bispo coadjutor com direito à sucessão, para Montes Claros, em Minas Gerais

No período da criação da diocese, a principal postura e intenção da Igreja Católica no Brasil era incrementar uma reforma nos moldes tridentinos. Não é a reforma tridentina como tal, mas uma reforma peculiar à Igreja do Brasil. Este movimento surgiu com alguns bispos reformadores no início da metade do século XIX e prosseguiu até meados do século XX. O que é próprio dessa reforma no Brasil é o chamado movimento de romanização ou europeização da Igreja. A inspiração para essa reforma os bispos buscaram-na nos ensinamentos do Concílio de Trento, mas a atuação estava voltada para uma purificação do catolicismo luso-brasileiro, implantado no Brasil sob o regime de padroado. Nesse contexto da chamada reforma católica foi criada a diocese de Montes Claros. Na verdade, a Igreja se encontra em constante transformação e conversão, oferecendo sinais de revitalização e renovação em cada tempo de sua história.

Para sediar a nova diocese, a cidade de Montes Claros foi escolhida porque, desde o século XIX, já era apreciada por sua posição geográfica que lhe dava o caráter de porta do sertão no Norte de Minas. Com o tempo, torna-se comum apresentá-la como a capital do Norte de Minas, pela sua posição geográfica, pelo seu progresso, pela sua pujança. Tudo isso devido à sua vitalidade na sociedade, no comércio, no desenvolvimento. Ao decidir-se pela cidade de Montes Claros como sede da diocese, o bispo de Diamantina desejou transformá-la também numa capital religiosa, a fim de que a vitalidade religiosa pudesse abranger toda a região norte-mineira.

Para a diocese criada em 1910, o bispo de Diamantina pensou na nomeação de um prelado religioso que recebesse ajuda de sua congregação religiosa. Contudo, nesse ínterim, D. João Antônio Pimenta solicitou ao bispo de Diamantina que intercedesse junto ao Núncio Apostólico da época, Dom Alessandro Bavona, a fim de que fosse transferido de Porto Alegre para Montes Claros. O Papa Pio X então nomeou D. João Antônio Pimenta para essa diocese em 1911. D. João era oriundo da região, nascido em Capelinha, foi ex-aluno do Seminário de Diamantina, amigo do bispo de Diamantina, ex-colega de alguns padres da nova diocese. No mesmo ano de sua nomeação, com sua Carta Pastoral de saudação aos diocesanos, manifestou seu pensamento de homem da Igreja. Revelou-se em sintonia com o programa do Papa Pio X que objetivava «restaurar tudo em Cristo». D. João afirmou a sua preocupação com a necessidade da regeneração da sociedade civil e regeneração da família. Para o primeiro bispo de Montes Claros a República abriu para o Brasil um tempo de «inovações ímpias» que levavam a sociedade à anarquia, destruíam a família e favoreciam um «Estado sem Deus». Ele repetia os ensinamentos pontifícios e as afirmações do episcopado brasileiro. Enfim, o primeiro bispo de Montes Claros lamentava o descaso da República brasileira com a Igreja e, como todo o episcopado do Brasil, desejava a urgente mudança desse quadro.

Dom João Antônio Pimenta, na política eclesiástica, preferiu a sombra do sertão norte-mineiro às luzes da já desenvolvida cidade de Porto Alegre dos inícios do século XX. Encobria discretamente o bem que realizava. Quando era preciso corrigir os maus costumes do clero, não conhecia as atenuações das condescendências e das hesitações. Para o seu tempo, tido como intransigente na defesa da fé, coube-lhe exercer uma influência civilizadora e cristã. Quando D. João chegou a Montes Claros, a cidade já contava com um expressivo grupo de cidadãos politizados, mas ainda envolvia a cidade um denso véu de paixões políticas, alimentadas pelo «coronelismo» presente também em todo o Norte de Minas. Muitas vezes era para as lutas de partidarismo estreito que se voltava quase que exclusivamente o espírito da cidade. D. João, sem a fama dos grandes prelados da época, conseguiu, através de sua «sensata neutralidade», como dizia, conservar a religião dos antepassados.

Como antes afirmado, a Igreja está sempre em transformação e ela se apresenta sempre em trabalho e parto de reformas para responder às mudanças ocorridas na sociedade. Nesse percurso histórico, a diocese de Montes Claros recebeu a ajuda de diversos pastores. Sucederam ao primeiro bispo Dom João Antônio Pimenta (1911-1943): Dom Aristides de Araújo Porto (1943-1947); Dom Antônio de Almeida Morais Júnior (1948-1951); Dom Luís Victor Sartori (1952-1956); Dom José Alves Trindade; Dom Geraldo Majela de Castro, OPraem (1988-2007), que foi também o primeiro arcebispo. Em seguida, vieram Dom José Alberto Moura, C.S.S. (2007-2018) e Dom João Justino de Medeiros Silva (2018-2021).

Atualmente, Dom José Carlos de Souza Campos (2023), em comunhão com todo o corpo eclesial que compõe esta porção sertaneja do Povo de Deus, trabalha buscando promover a conversão pessoal e eclesial, o senso de pertença, a sinodalidade, o compromisso com os pobres e pequenos destas terras. Vamos avançando na lógica e na compreensão de que o bispo não pastoreia sozinho, não governa sozinho, não decide sozinho. Deus não fala só ao coração do pastor, mas também fala através da fé, do discernimento, da palavra de cada membro da Igreja, que precisa ser ouvido e levado a sério. Precisamos avançar sempre mais na capacidade da colegialidade, do funcionamento dos conselhos em todos os níveis desta Igreja, do diálogo respeitoso e aberto entre pastores e ovelhas, no compromisso com os mais vulneráveis, que não são “objeto” de nossa benevolência, mas “sujeitos” e agentes da evangelização e da vinda e crescimento do Reino de Jesus.

Sigamos no anúncio alegre, criativo e ético do Evangelho do Reino, no cuidado permanente das vulnerabilidades humanas, no compromisso e na consciência ecológica com estas terras e suas riquezas naturais, caminhando sempre para frente e para o alto.

Deus seja louvado pelas células iniciais desta Igreja que alcança hoje seus 115 anos de um belo e empenhativo caminho de fé, de missão, de testemunho evangélico. Sementes lançadas no passado, frutos colhidos no caminho, sementeiras novas, frutos sempre novos para o presente e o futuro. Deus nos leve sempre mais para águas mais profundas! Duc in altum! Sursum corda!

 

Texto a duas mãos de padre Fanscino Oliveira Silva e dom José Carlos de Souza Campos, servidores desta Igreja mais que centenária.

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