Tradicionalmente, ao mês destinado à meditação da Palavra de Deus sucede o destinado à Missão. Não é por acaso que isso acontece, pois o movimento cristão é, e sempre será, de encarnação. Todos conhecemos e rezamos a jaculatória retirada do prólogo de São João: A Palavra se fez carne, e habitou entre nós (cf. Jo 1,14). Essa Palavra que assumiu nossa realidade, nossa existência, aqui indicada pelo termo “carne”, andou em nosso meio, falou a nossa língua, e nos ensinou a linguagem do Amor, nos convidando a assumi-la como língua materna de nossa vida.
É o convite a participarmos da vida de Cristo, no concreto de nosso cotidiano, que se refere o livro escolhido para ser meditado nesse mês de setembro, a Carta aos Efésios. Vestir-nos da nova humanidade (cf. Ef 4,24) é deixar que o mistério de Cristo prolongue sua encarnação através de nós no hoje de nossa história. Em outros termos, trata-se de assumir a nossa história como História de Salvação, lugar de encontro com Deus e com os irmãos.
Se, como Jó, em nossa carne ferida vemos a Deus (cf. Jó 19,26b), e nela experimentamos a Ele, podemos escutar o convite a nos tornarmos lugar da revelação de Deus no mundo (Texto-base do Mês da Bíblia, p.23). Individual e comunitariamente, somos todos chamados a participarmos do mistério de reconciliação e de unidade proposto por Deus em Jesus. É como se ouvíssemos do próprio Deus que agora é a nossa vez de encarnarmos a Boa Notícia no mundo.
Poderíamos, então, nos questionar sobre como podemos fazer isso. O tema da Campanha Missionária deste ano nos indica com clareza: Ide! Da Igreja local aos confins do mundo. Ir, caminhar, seguir seu percurso de fé e vida, e, enquanto o faz, anunciar a Melhor Notícia do Evangelho. Enfim, com corações ardentes, [e] pés a caminho (cf. Lc 24,13-35), conseguiremos levar outros a experimentarem também em suas histórias a graça do encontro pessoal com Jesus.
Realmente, a Palavra que nos chama e que nos congrega é a mesma que nos envia, à sua frente, a toda cidade e lugar aonde Ele próprio deveria ir (cf. Lc 10,1), e a fazer o que Ele mesmo deveria fazer. Justapor Palavra e Missão é, então, caminho lógico e de fé do discípulo-missionário que, pela atenção à Palavra do Senhor, lança as redes ao mar (cf. Lc 5,5). E esse caminho se inicia onde e como estamos, pois é o próprio Senhor que vem ao nosso encontro, caminha conosco e explica nossa realidade sob o olhar da Graça, dando-nos esperança.
Para bem vivermos o caminho discipular do Senhor, é preciso recordar que o caminho da fé é, por assim dizer, da Palavra à Missão, e não existe cristão algum que não deva se sentir impelido a esse salto. A Encarnação ilumina a nossa vida e nos mostra o quanto devemos viver em processo de saída de nós, indo ao encontro dos outros e de suas realidades, para dar-lhes um novo horizonte e uma nova esperança.
Em síntese, o resultado vivo da escuta da Palavra é a experiência da Igreja, que, por meio do crescimento na unidade e no amor, torna-se cada vez mais morada de Deus no Espírito. Nela ecoa o mistério da esperança, que ilumina a todos, penetra o coração do ser humano e o transforma profundamente. A Igreja se torna, então, o espaço da experiência do amor, como realidade de relacionamentos fundados na fé em Jesus, lugar de acolhida e cuidado de toda a Criação, a começar pelos mais próximos. Essa esperança se irradia e contagia a todos, desde aqui até os confins do mundo.
Pe. Eric Jader A. Costa
Assessor do Conselho Missionário Arquidiocesano – COMIDI
Arquidiocese em Missão