Com o tema “Tu és a minha esperança” (Sl 71,5), ações e reflexões unem fé, justiça social e compromisso com os mais vulneráveis
A Arquidiocese de Montes Claros realiza, de 9 a 16 de novembro, a Semana Arquidiocesana de Ação Social, em sintonia com a 9ª Jornada Mundial dos Pobres (JMP), instituída pelo Papa Francisco. Este ano, o tema proposto — “Tu és a minha esperança” (Sl 71,5) — convida os fiéis e toda a sociedade a um olhar mais profundo sobre as causas estruturais da pobreza, indo além da caridade imediata para promover esperança, justiça e transformação social.
Inspirada pela exortação apostólica Dilexi te e pela mensagem do Papa Leão XIV, a Jornada Mundial dos Pobres recorda que o enfrentamento da miséria e da exclusão é um chamado evangélico e humano. O Santo Padre reforça que “a pobreza não é uma fatalidade, mas o resultado de estruturas injustas que precisam ser transformadas”.
A Arquidiocese e a criação de novos sinais de esperança
Sob o lema “Chamados a criar novos sinais de esperança”, o Vicariato Episcopal para a Ação Social organiza, ao longo da semana, iniciativas que unem fé e compromisso social. A Audiência Pública “Atuação e parcerias da Arquidiocese de Montes Claros nas ações sociais voltadas às comunidades e populações vulneráveis” será um dos momentos centrais da programação. O encontro acontece no dia 14 de novembro, às 19h, na Câmara Municipal de Montes Claros, reunindo representantes de pastorais, serviços eclesiais, universidades, poderes públicos, movimentos sociais e organizações da sociedade civil.
O objetivo da audiência é refletir e fortalecer a articulação entre as iniciativas da Igreja e as políticas públicas, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa, solidária e fraterna. “Trata-se de uma oportunidade para reafirmarmos a presença pública da Igreja, comprometida com o bem comum e o cuidado com os empobrecidos”, afirma o Vicariato.
Mutirão com a população em situação de rua
Encerrando a Semana Arquidiocesana de Ação Social, no domingo, 16 de novembro, Dia Mundial dos Pobres, será realizado um Mutirão com a população em situação de rua, a partir das 8h, na Sede dos Vicentinos (antigo Asilinho) — Comunidade São Vicente de Paulo e Conselho Metropolitano de Montes Claros, na Rua General Carneiro, 164, Centro.
A ação envolverá momentos de escuta, convivência fraterna e prestação de serviços básicos, expressando concretamente o cuidado e a esperança que brotam do Evangelho.
Menos fome, mas a pobreza persiste
Dados recentes apontam avanços no combate à fome e ao desemprego: segundo o IBGE, a taxa de desemprego caiu para 5,8% em agosto de 2024, e o Brasil saiu novamente do Mapa da Fome da ONU, com 2,2 milhões de pessoas deixando a insegurança alimentar grave.
Contudo, especialistas alertam que os indicadores positivos não traduzem plenamente a realidade das famílias mais pobres. Em São Paulo, por exemplo, mais de 400 mil famílias vivem em extrema pobreza. Paralelamente, a crise climática agrava a vulnerabilidade social, afetando de forma mais intensa quem já enfrenta privações.
O sociólogo Eduardo Brasileiro, articulador da Economia de Francisco e Clara, destaca que a Jornada Mundial dos Pobres é um espaço pedagógico para “desnudar as violências financeiras, culturais e econômicas que sustentam a desigualdade”.
Segundo ele, “o grito da terra é o grito dos pobres”, e enfrentar a pobreza requer rever modelos econômicos excludentes e propor alternativas solidárias.
Causas estruturais e o desafio da esperança
Eduardo aponta que, embora o país tenha avançado em políticas públicas, a concentração de renda e o enfraquecimento dos direitos trabalhistas ainda comprometem a dignidade de milhões. Ele defende o fortalecimento de mecanismos como a renda básica de cidadania, a proteção ao trabalhador autônomo e investimentos públicos que democratizem o acesso aos bens essenciais.
Além disso, enfatiza que as mudanças climáticas aprofundam desigualdades, afetando desde famílias urbanas sem infraestrutura adequada até agricultores familiares prejudicados pela seca e pelo desmatamento.
“O desafio da Economia de Francisco e Clara é repensar a estrutura econômica. Não podemos naturalizar mercados de desigualdades, nem bilionários convivendo com milhares de empobrecidos. É um mundo adoecido por um projeto político”, afirmou o sociólogo.
Compromisso com o Evangelho da esperança
A Semana Arquidiocesana de Ação Social, vivida no contexto da Jornada Mundial dos Pobres 2025, é, portanto, um tempo de compromisso, escuta e ação concreta. A Arquidiocese de Montes Claros reafirma sua missão de ser Igreja em saída, que caminha com os pobres, promove a dignidade humana e testemunha o Evangelho como sinal de esperança e transformação.
“A caridade não pode ser apenas uma resposta emergencial; ela deve ser um instrumento de transformação. A esperança nasce quando a justiça floresce.” (Papa Francisco)





