Entre os dias 19 e 21 de abril de 2024, o padre Diogo Maurício Affonso, assessor eclesiástico da Pastoral Carcerária da Arquidiocese de Montes Claros, marcou presença no 26º Encontro Estadual da Pastoral Carcerária. O evento ocorreu em Governador Valadares e reuniu agentes da Pastoral de diversas Arquidioceses e Dioceses do Estado de Minas Gerais.
Ao encerrar o encontro, os participantes redigiram uma carta direcionada aos agentes da Pastoral Carcerária no Regional Leste 2 da CNBB. O documento, repleto de reflexões e compromissos, destaca a unidade e a colaboração entre os participantes em prol de uma atuação mais eficaz no campo prisional.
Padre Diogo relatou que o encontro foi enriquecedor, que proporcionou momentos profundos de espiritualidade, testemunho e partilha. Segundo ele, foi um chamado à ação para construirmos um mundo onde a justiça restaurativa seja a norma, e onde acreditamos firmemente na regeneração do ser humano.
“Lutemos juntos por um mundo onde a justiça restaurativa seja o elemento principal em nossa sociedade. Enquanto cristãos devemos sempre acreditar na regeneração do ser humano. São muitos desafios que enfrentam os nossos irmãos e irmãs privados de liberdade, mas o maior deles é a falta de misericórdia.” (Padre Diogo Mauricio)
Ao retornar para Montes Claros, padre Diogo compartilhou a carta de conclusão do Encontro com o clero da Arquidiocese e membros da Pastoral Carcerária, com um convite: “Convido todos a divulgar essa carta em suas comunidades, buscando alcançar o maior número de pessoas.”
Detalhes da Carta dos Participantes do Encontro
Confira abaixo a carta na íntegra.
A carta enviada pelos participantes do encontro tem como tema central “Por um mundo sem cárceres”. Ela ressalta a colaboração e comunhão entre as dioceses representadas: Governador Valadares, Belo Horizonte, Mariana, Caratinga, Itabira-Coronel Fabriciano, Janaúba, Januária, Montes Claros, Diamantina, Campanha, Juiz de Fora, Divinópolis e Teófilo Otoni.
O documento destaca o início do encontro com uma oração significativa de abertura, seguida por uma profunda reflexão sobre a imperatividade de “limpar nossas vistas” e superar “cegueiras” diante da realidade do sistema prisional brasileiro. Durante os dias de encontro, os participantes aprofundaram-se em temas cruciais relacionados ao objetivo de construir um mundo sem cárceres. Discutiram os desafios da ação evangelizadora no contexto carcerário, a dura realidade do encarceramento no Brasil e as falhas sistêmicas que afligem nosso sistema prisional. Também foram discutidas iniciativas proativas, como a Agenda pelo Desencarceramento e o papel fundamental da justiça restaurativa.
A carta reflete uma profunda preocupação e indignação com o atual retrocesso na questão carcerária do Brasil. Os participantes denunciam o endurecimento das leis e a persistente visão simplista de que a solução para a violência e os conflitos sociais reside unicamente no aumento da repressão policial, na expansão do sistema carcerário e na intensificação das punições. Em contrapartida, enfatizam a importância de buscar caminhos alternativos, como a redução da população prisional, investimento em alternativas ao encarceramento, desnaturalização da punição e um compromisso genuíno com a ressocialização e a dignidade das pessoas em situação de encarceramento.
Padre Diogo Maurício Affonso e os participantes do 26º Encontro Estadual da Pastoral Carcerária renovaram seu compromisso em serem presença cristã, solidária e fraterna junto aos irmãos e irmãs encarcerados. A próxima edição do encontro está programada para 2025, na Diocese de Divinópolis.
A realidade carcerária no Brasil e a Missão da Pastoral Carcerária
Segundo a Pastoral Carcerária Nacional, o Brasil, infelizmente, possui a terceira maior população carcerária do mundo. Desde o início dos anos 1990, o país tem experimentado um aumento exorbitante na população carcerária, refletindo uma política de encarceramento em massa que atinge principalmente grupos sociais marginalizados e empobrecidos, como jovens, negros e moradores de periferias e áreas urbanas socialmente precárias.
Nesse contexto desafiador, a Pastoral Carcerária busca ser a presença de Cristo e da Igreja no mundo dos cárceres, marcado pela superlotação, condições insalubres e violações de direitos humanos. Os agentes pastorais desempenham um papel fundamental no atendimento religioso às pessoas privadas de liberdade, oferecendo escuta, acolhimento e anúncio da Boa Nova. Além disso, contribuem para o processo de iniciação à vida cristã, vivência dos sacramentos e enfrentamento às violações de direitos humanos e da dignidade humana dentro do cárcere.