Filhos do carpinteiro

Iniciaremos, na próxima quarta-feira, o mês de maio. Nesse mesmo dia celebraremos São José Operário e o dia do trabalhador. Embora visto como um peso e um castigo para os expulsos do Éden, como nos narra o autor sagrado no livro da Criação (cf. Gn 3,17-19), o trabalho ganha contornos de redenção em Jesus Cristo. De fato, ele retorna ao mandato divino dado aos primeiros pais ainda no paraíso, no qual o trabalho é participação na missão criadora-redentora de Deus.

No Ritual de Bênçãos, assim lemos: Jesus Cristo tornou manifesta a dignidade do trabalho, quando Ele próprio, Verbo do Pai, tomando a condição humana, quis ser chamado filho do carpinteiro e exercer humildemente esta profissão com as próprias mãos. Assim afastou a antiga maldição do pecado e converteu o trabalho dos homens em fonte de bênção (Ritual de Bênçãos, n. 605). É em Jesus, que na carpintaria de São José assumiu a condição de trabalhador, que vamos, aos poucos, criando uma realidade melhor, em que todos somos corresponsáveis pelo seu crescimento.

Dissemos que o homem, com o trabalho das suas mãos, continua a obra da criação, seguindo o mandato do Senhor de ser o cuidador de toda ela. É verdade que o progresso nos meios de produção e na organização das trocas de bens e de serviços fez da economia um instrumento capaz de melhor satisfazer as crescentes necessidades da família humana (GS, n. 63). Mas não se pode fechar os olhos para as diversas situações em que as relações de trabalho ficam longe daquelas restauradas em Jesus. Há notícias que se amontoam e mostram condições análogas à escravidão, ou com remuneração muito abaixo do necessário para a sobrevivência.

Recentemente, a Campanha da Fraternidade (2023) apresentou dados que revelam o número de pessoas que vivem em condição de insegurança alimentar. Trata-se de uma multidão, muitas vezes sem rosto, nome ou voz, não tem nem a noção de quando farão uma próxima refeição. Tal condição é, muitas vezes, existente por falta de oferta de trabalhos dignos e de políticas que permitam o acesso a elas.

A Igreja, contudo, não cansa de ser a voz dos que são silenciados ou não tem forças para gritar. O Papa Francisco chegou a dizer:  Todos estes são nossos irmãos e irmãs, que ganham a vida desta forma, com trabalhos que não reconhecem a sua dignidade! Pensemos nisto. E isto está a acontecer hoje, no mundo (Catequese de 12 de janeiro de 2022)! Não se pautando em ideologias e partidarismos, a Igreja defende o ideal bíblico-teológico de coparticipação na missão Trinitária, que confere ao ser humano o dom do trabalho como fonte de graças e bênçãos. De fato, no mesmo discurso, o Santo Padre insiste que o trabalho, além de componente essencial da vida humana, deve ser entendido como caminho de santificação.

Com toda a razão se celebra a bênção dos locais em que o homem trabalha, para seu bem e para o bem dos outros, e não cansa de ressoar a Boa Notícia de que, na carpintaria de Nazaré, e onde quer que o trabalho seja dignamente exercido, encontramos também as bênçãos e graças para construir um mundo novo. Sejamos, assim, também nós filhos do carpinteiro, e com São José assumamos a nossa responsabilidade nessa construção de um mundo pautado no Evangelho. Que ele interceda por cada um de nós, e que o Senhor Ressuscitado, filho do carpinteiro, derrame copiosas bênçãos sobre todos os trabalhadores de nosso Brasil, e ajude os que estão desempregados em sua busca de trabalho digno.

Pe. Eric Jader A. Costa
Assessor do Conselho Missionário Diocesano (COMIDI)
Arquidiocese de Montes Claros

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