“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. Esta frase do livro “O Pequeno Príncipe” de Antoine de Saint-Exupéry, traduz a vida do Padre Valdomiro Soares Machado, conhecido como Frei Valdo. Por onde passou o sacerdote cativou uma multidão de pessoas.
Frei Valdo fez a sua páscoa nesta terça-feira, 22 de julho de 2025, aos 76 anos de idade, após lutar contra um câncer agressivo no pâncreas e no fígado. Ele estava internado desde o dia 08 de julho deste ano, na Santa Casa de Montes Claros – MG.
A Igreja nos ensina que a morte não é o fim, que a vida não é tirada, mas transformada. Com esta certeza, a Arquidiocese de Montes Claros se despede de Frei Valdo. Ele não está mais presente entre nós, mas a sua lembrança permanece viva no coração de todos aqueles que o conheceram. O seu sorriso, o seu olhar amoroso e as suas palavras continuam a cativar cada um daqueles que foram tocados de alguma forma pelo seu jeito de amar.
Ao comentar sobre o falecimento de Frei Valdo, o Arcebispo de Montes Claros, Dom José Carlos, ressaltou que o sacerdote foi um indicador do céu.
“A morte será sempre uma inesperada visita. Mas quem chama é Aquele que também ressuscita. Nosso Frei Valdo foi um homem de Deus, foi um amante da vida, foi um indicador do céu como único destino. Como um bom e sempre franciscano, ele acolhe a irmã morte como uma amiga que sabe o caminho para Deus. Descanse em paz, homem bom e alegre! Você fará falta, mas sabemos que agora está diante daquele que é ‘o único necessário’ e a ‘melhor parte’”.
A morte de Frei Valdo gerou grande comoção em toda a Arquidiocese e sociedade de Montes Claros. Nas redes sociais, vários fiéis também lamentaram a morte do sacerdote e prestaram solidariedade.
Em um artigo, o jornalista Benedito Said prestou homenagem ao padre, destacando as suas principais ações durante o período que esteve em Montes Claros. “Sempre com voz pausada, mas firme e centrada na palavra de Deus, Frei Valdo trabalhou na evangelização sem cessar. E deixou obras que dignificam toda a vida que ama o semelhante”. Escreveu o jornalista.
Trajetória
Valdomiro Soares Machado nasceu em 04 de agosto de 1948, em Montes Claros – MG. Cresceu em um lar católico, em um ambiente familiar de muita fé e devoção.
Na sua juventude ingressou na Ordem dos Frades Menores Conventuais, em 18 de junho de 1983 fez os votos perpétuos no Carisma Franciscano. Em 12 de dezembro de 1984 recebeu a Ordenação Diaconal, na Igreja São Francisco, no bairro Rio Comprido, no Rio de Janeiro – RJ.
Foi ordenado presbítero pelas mãos de Dom Geraldo Majela de Castro, O.Praem, no dia 27 de julho de 1985, na Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição e São José, em Montes Claros.
Durante o período que esteve na Ordem dos Frades Menores Conventuais, Frei Valdo exerceu várias funções. Na Paróquia São Sebastião, em Araruama – RJ, ele foi pároco de 1986 a 1990; também foi coordenador da Pastoral da Juventude, na Arquidiocese de Niterói – RJ; coordenou e foi diretor espiritual do ECC na Região dos Lagos – RJ.
Em 30 de novembro de 2003 Frei Valdo deixou a Ordem dos Frades Menores Conventuais. Devido à saúde da sua mãe, pediu para voltar para sua terra natal.
No início de 2004 o Frei foi acolhido pelo clero da Arquidiocese de Montes Claros. Em 14 de fevereiro de 2004 iniciou o seu ministério sacerdotal na Arquidiocese como Administrador Paroquial da Paróquia São Sebastião, no bairro Vila Guilhermina, em Montes Claros.
Esteve à frente da paróquia por nove anos. Durante este período ele concluiu algumas obras e construiu novas; realizou reformas na Igreja Matriz e criou novas comunidades rurais, sempre preocupado em integrar o meio rural com o urbano.
Em 14 de abril de 2007 Frei Valdo foi incardinado na Arquidiocese de Montes Claros.
Em janeiro de 2013 foi nomeado como pároco da Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida, em Montes Claros. Permaneceu a frente da paróquia até o final do ano de 2020, quando recebeu a provisão de pároco para a Paróquia São José Operário, no bairro Jardim Eldorado, em Montes Claros.
No dia 02 de fevereiro deste ano Frei Valdo assumiu o seu novo ministério pastoral como vigário paroquial na Paróquia Santos Reis, em Montes Claros.
Na Arquidiocese, Frei Valdo também foi membro do Colégio dos Consultores, membro do Conselho Econômico e Assessor da Pastoral da Educação e Diálogo Ecumênico e Inter-Religioso. De 2004 a 2017 ele foi professor do Seminário Maior Imaculado Coração de Maria, em Montes Claros. Permaneceu como diretor espiritual no Seminário até o ano passado.
O cuidado com os que sofrem
O sofrimento humano sempre inquietou Frei Valdo, durante todo o seu ministério sacerdotal ele procurou de alguma forma aliviar o coração dos mais necessitados, Frei Valdo não amava só com palavras, manifestava o seu amor em atos.
Um dos seus gestos mais significativos foi a criação da Associação Cristã Banco da Solidariedade – BANSOL, a instituição filantrópica foi fundada por Frei Valdo, em abril de 2008, quando era pároco da Paróquia São Sebastião.
Um dos frutos desta iniciativa é a Comunidade Terapêutica Fazenda da Solidariedade, conhecida como Fazendinha. Um espaço de acolhimento que trabalha espiritualidade, família e trabalho, promovendo a reabilitação e reintegração social. A Fazendinha foi fundada por Frei Valdo em outubro de 2009, com a finalidade recuperar dependentes químicos de substâncias psicoativas (álcool e drogas). O local oferece um acolhimento gratuito, embasado em três pilares: Trabalho, Família e Espiritualidade.
Frei Valdo partiu, mas deixa um legado, o seu exemplo permanece vivo. “Ele partiu, mas não foi embora”, como escreveu o professor de Direito da UNIMONTES, Dr. Rafael Moura, em homenagem ao religioso. “Ficou no nome sussurrado com carinho nas orações dos que o amaram. Ficou na água do batismo, na aliança do casamento, no pão repartido com os que tinham fome de alma. Ficou na luz da vela acesa por um dependente que escolheu recomeçar”. Declarou o professor.