Durante o tempo Pascal é comum lermos nos Santos Evangelhos relatos das aparições de Jesus nas quais ele relembra e desperta a fé dos discípulos. A Sagrada Liturgia conserva estes preciosos relatos como um tesouro da fé, pois é o próprio Cristo que vai progressivamente abrindo a inteligência dos seus. De fato, somente por este toque é que eles, e também nós, somos capazes de compreender o mistério da Ressureição.
O Terceiro Domingo da Páscoa nos coloca na continuidade do caminho de Emaús. Nosso coração corre veloz com os pés dos discípulos que vão apressados pelo caminho portando a boa-nova: “Reconhecemos Jesus ao partir do pão (Cf. Lc 24,35). O caminho para Emaús é um caminho paradoxal. No início ele é triste pela aparente derrota e vergonha de seguir um homem que foi condenado a vergonhosa morte de cruz. No meio ele se torna o caminho da escuta e da partilha com o misterioso peregrino que caminha com eles. E ao término se torna o caminho pascal, pois eles comem, ouvem e sentem o seu Mestre.
Neste sentido, a medida que o dia declina e a noite vem chegando (Cf. Lc 24,29), os discípulos vão sentindo estranhamente outro sol nascer, mas agora dentro deles: “Não ardia o nosso coração enquanto ele falava? ” (Lc 24,32). A luz de Cristo ilumina toda e qualquer treva, sobretudo as trevas do coração humano.
No pedido: “Fica conosco Senhor! ” (Lc 24,29), está presente o ardente desejo de compreender um pouco mais deste grande mistério. No entanto, o caminho de Emaús não acaba naquela mesa de refeição. Ele continua. Agora é preciso dizer também à comunidade que o Cristo está vivo. Na cena seguinte o próprio Cristo confirma o anúncio destes peregrinos no meio da comunidade reunida.
Para ser reconhecido pelos discípulos que estão atônitos, Jesus mostra as Suas santas chagas, que agora não são mais sinais de dor e sofrimento, mas sinal de amor e redenção: “Em suas chagas, fomos curados. ” (1Pd 2). As chagas indicam a profundidade do amor de Deus que esvazia a si mesmo para nos alcançar.
Outro recurso utilizado pelo Senhor é a refeição: “Tendes aqui alguma coisa para comer? ” (Lc 24,41). Assim, Cristo é reconhecido pelos sinais de sua humanidade. No corpo glorioso do ressuscitado encontra-se marcado a nossa humanidade. Por isso, ao olhar, os discípulos tiveram coragem para crer.
Este domingo, portanto, quer apontar para uma intensa transformação que deve brotar dentro de nós. Como os discípulos de Emaús, após a ressureição, é preciso se doar a missão. A notícia da ressureição não pode ficar escondida, ela deve ser plenamente anunciada não só com palavras, mas com uma vida coerente e obediente.
Padre Waldelir Soares Araújo
Pároco na Paróquia São João Batista em Montes Claros – MG e
coordenador da Comissão Arquidiocesana de Música Sacra e Canto Pastoral.