O Senhor é bom e conforta os corações

A liturgia deste 5º Domingo do Tempo Comum toca no espinhoso assunto da dor e do sofrimento, temas tão caros a todos nós, pois somos visceralmente marcados por essas realidades em nossa existência, as quais muitas vezes são causas de inquietações e questionamentos de nossa parte.

Jó era um homem íntegro e reto, como narra a Bíblia (cf. Jó 1,1). Rico de bens materiais, vivia satisfeito com a esposa e uma grande família. Ao bater à sua porta a dor e o sofrimento, tomado pelo abatimento, Jó indaga: “Não é acaso uma luta a vida do homem sobre a terra?” Poderíamos, olhando para a nossa própria vida, respondê-lo: sim, a vida humana é uma luta. E mais: essa luta, diante de todo sofrimento que nos ocorre, só alcança seu sentido pleno em Jesus Cristo.

O Salmo revela-nos a esperança: “O Senhor é bom”, […] “Ele conforta os corações despedaçados”, “Ele enfaixa suas feridas e as cura”. Essas palavras se cumpriram em Cristo. Ele é a nossa esperança (cf. Tm 1,1).

No Evangelho, em meio a tantas curas e milagres, a cura da sogra de Pedro, em particular, nos ajudará a tocar de forma mais profunda este mistério. Ao curar a sogra de Pedro, Jesus ajudou-a a levantar-se (cf. Mc 1, 31). Em grego – língua na qual foi escrito o Novo Testamento – o verbo “levantar” utilizado neste trecho é ἐγείρω (egueiro); este é o mesmo verbo utilizado para dizer “ressuscitar”. A partir disso, podemos entender que o sentido do sofrimento não pode nunca estar vinculado somente a essa nossa existência atual. Se procuramos uma resposta deste mundo, encontraremos somente aflição e desespero. Por outro lado, em Cristo, o sofrimento é elevado a uma outra categoria; se trata de um sentido que transcende nosso tempo. São João Paulo II, na carta apostólica Salvifici Doloris, nos explica: “O amor é a fonte mais plena para a resposta à pergunta acerca do sentido do sofrimento. Esta resposta foi dada por Deus ao homem, na Cruz de Jesus Cristo”.

Assim, podemos dizer que aquilo que aconteceu com a sogra de Pedro é o que acontece com todos os que somos batizados. Por meio de Jesus Cristo, passamos da morte espiritual e entramos na vida da graça. Ressuscitamos para a vida nova em Cristo.

Outro detalhe também importante é que, após receber a graça, a sogra de Pedro levantou-se para servir. Não para servir de forma meramente utilitária, mas com amor, como alguém que ouviu o chamado do Senhor. A bênção recebida traz com ela responsabilidades. Também nós devemos servir no nosso cotidiano dando testemunho e pregando o Evangelho, como nos ensina São Paulo na Segunda Leitura (cf. 1Cor 9, 16). Deste modo, se cumprirmos verdadeiramente a missão que assumimos no batismo, também uma outra multidão buscará conhecer sobre Aquele de quem falamos e a quem seguimos; Aquele que, por seu amor por nós, dá sentido às nossas dores.

Matheus Rodrigues Lopes
Seminarista do 4º Ano de Teologia do Seminário Maior
Arquidiocese em Missão

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