Passados dez anos!

Estamos há dez anos do vinte e cinco de maio de dois mil e quatorze. Naquela tarde de um domingo do tempo pascal e mariano, sob uma oportuna e refrescante garoa e numa catedral plena e rodeada de gente, o pároco era ordenado bispo para aquela Igreja local. Estavam ali quase vinte bispos, algumas centenas de padres, diáconos, religiosos e religiosas, lideranças eclesiais e civis, uma multidão que parecia ter sido ouvida nas suas preces e feliz com o que Deus enviara como Pastor. Estavam ali também todos os membros de uma família simples, imersa no impacto de algo novo que tocava a vida do filho e do irmão mais velho. A vantagem é que tudo seria por ali mesmo, não obstante a mudança de ofício e o grau de comprometimento do tempo e da presença junto deles. Percebia-se, olhando em derredor, uma Igreja que aprovava a escolha de Deus. Passados quarenta e seis anos de vida e vinte e um de ministério sacerdotal, agora o escolhido avança para tarefas, decisões e responsabilidades mais exigentes. Passaram-se a seguir quase nove anos até a primeira partida para outros rincões. Confesso não ter nenhuma amargura ou desafeto com minha Igreja de origem e das primeiras missões. Tudo me ensinou. Fui formado bispo junto dos meus, que foram pacientes e amorosos comigo. Deram conta de mim e eu deles. Eu não pediria para sair de lá. Espero voltar no final do caminho e da missão cumprida.

Eis que ecoa então novo chamamento, preparado divertidamente com muitas hipóteses, insinuações, nomeações antecipadas para muitos lugares, até que quem tinha que escolher pronunciou sua decisão: Deus pela decisão de Francisco. Como a Deus não convém negar nada, a resposta foi sim. Agora para terras um pouco mais longínquas, mais sertanejas e completamente desconhecidas. Contudo, no mesmo Estado, no mesmo Regional Leste 2, entre os amigos bispos e na mesma perspectiva de ação pastoral. Certamente haveria lugares bem mais difíceis, cujo sim seria mais temeroso e resistente. Deus conhece meus limites!

Estando na grande e desafiadora Arquidiocese de Montes há mais de um ano, e não querendo estar noutro lugar, sinto-me em casa e parece que já estou muito tempo por aqui. Os laços, os ajustes, os entrosamentos, as simpatias e a conexão vieram em tempo bem curto. Tempo de Deus! Não sem problemas, sem fadigas, sem soluções para muitos desafios e embrolhos. Mas está valendo a pena. Não há nenhum sinal ou sintoma de mal-estar vocacional, nem de desajuste relacional, nem mau odor de desrespeito ou abuso de nenhum lado. Sigamos adiante. Temos longo caminho a percorrer.

Sigo olhando para frente, como Moisés, na pascal saída do Egito e na travessia libertadora do deserto, “permanecendo firme como se visse o Invisível” (Hb 12,27), “com os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé” (Hb 12,2). Foi Ele quem me chamou para ser padre, para ser bispo, para estar aqui. Eu só escolhi segui-Lo, onde e como Ele quisesse. Eu sabia que não seria eu a colocar as regras, as condições, as cláusulas do seguimento. Eu aceitei. Eu quis. Eu respondi sim.

Parece que passou muito depressa este primeiro decênio. Impossível quantificar celebrações, encontros, visitas, reuniões, decisões, preocupações, acertos, erros, simpatias e antipatias. Mas até aqui nos trouxe o Senhor e será Ele a levar a termo, a bom termo, a obra iniciada. Nas contas canônicas da idade, percorri um terço do caminho missionário do ministério episcopal. Faltam dois terços até entregar o ofício na emeritude no tempo previsto. E espero chegar lá, com os olhos enxergando ainda mais o Invisível e fixos em Jesus. O caminho percorrido e a percorrer é por causa d’Ele, por chamado d’Ele, por decisões do seu coração para o meu coração e minha vida. O que vier d’Ele eu quero. Não haverá não. Mesmo que o sim seja pronunciado imerso em tremores e temores.

Obrigado pela presença amiga, fraterna, respeitosa, cordial de todos. Não sei tudo, não posso tudo, não quero resolver tudo. Apenas quero continuar no meio de vocês como aquele que serve, buscando avançar e escrever novas páginas da história de uma Igreja que dê testemunho de comunhão, participação, missão e conversão, que continue cuidando de todos sem exceções, que saiba apontar a transcendência como meta de nossa imanência terrena e de nossa altíssima vocação cristã.

Dom José Carlos de Souza Campos

Arcebispo Metropolitano de Montes Claros – MG

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