A Arquidiocese de Montes Claros, a Paróquia Santo Antônio de Grão Mogol e a Prefeitura Municipal de Grão Mogol têm a honra de convidar todos os fiéis e a comunidade em geral para a solenidade de reinauguração da Igreja Matriz de Santo Antônio, no dia 5 de outubro de 2025.
O momento marca a conclusão do processo de restauração deste importante templo, símbolo da fé e da identidade cultural do povo grão-mogolense. Será um dia histórico, de grande alegria e gratidão, em que a comunidade celebrará a preservação de um patrimônio religioso e cultural que acompanha a vida da cidade desde os seus primórdios.
Programação
- 16h – Concentração na Igreja Nossa Senhora do Rosário
- 17h – Procissão em direção à Igreja Matriz
- 17h30 – Sessão solene com as autoridades
- Em seguida – Ato solene de reabertura da Igreja Matriz e Santa Missa presidida por Dom José Carlos de Souza Campos, Arcebispo Metropolitano de Montes Claros
Mais do que uma obra arquitetônica, a restauração da Igreja Matriz de Santo Antônio representa a continuidade da história, da devoção e da tradição de um povo que encontra em seu padroeiro inspiração para a fé e a vida comunitária.
Na sequência, apresentamos na íntegra um texto que contextualiza a história, a arquitetura e o valor cultural da Igreja Matriz de Santo Antônio:
A IGREJA MATRIZ DE SANTO ANTÔNIO
(O texto é de autoria de Marília Alves do Nascimento Pereira, leiga da Paróquia Santo Antônio. O estudo foi elaborado a partir dos Livros de Tombo da Paróquia e de documentos da Câmara Municipal de Grão Mogol.)

A Igreja Matriz de Santo Antônio é um patrimônio do povo grão-mogolense, situada na antiga Praça da Matriz, atual Praça Ezequiel Pereira, foi construída originalmente uma pequena capela em honra a Santo Antônio. Estima-se que a construção da Matriz teve início no ano de 1839. Em um documento apresentado ao jornalista Alberto Senna pelo professor Geraldo Fróes, mostra que:
“Atestado passado à mesa administrativa da obra da Igreja Matriz desta cidade, como abaixo se declara. A Câmara Municipal da cidade de Grão Mogôr na forma da lei. Atesta que trabalhou-se na obra da Igreja Matriz desta cidade, desde o dia primeiro de setembro de 1839, até 30 de janeiro de 1858; que a obra tem sido feita a expensas do povo excepção da quantia de 800$000 recebida do Cofre Provincial; que é de boa construção por ser de pedra; boa arquitetura e bem desimpenhada, finalmente que os trabalhos da referida obra, foram suspensos por falta de recursos necessários. E por ser esta pedida, esta Câmara mandou passar vae por ella assinada selado com seu selo. Dada e passado no Paço da Câmara Municipal em sessão extraordinária de 24 de abril de 1862. Eu Jão Martins Bragança secretário que escrevi. O presidente Daniel Casimiro Pinto Coelho, Casimiro José Pinto Collares, João Gomes da Fonseca”.
Como se pode perceber a obra da Igreja Matriz de Santo Antônio está ligada a formação da Cidade. Ainda no período da mineração, a predominância da Igreja Católica era muito forte, sendo comum a pessoa atribuir, nomes de Santos ou de pessoas de grande influência da igreja a município e/ou monumentos. Grão Mogol acompanha esse padrão. Nela ergueu-se a partir da exploração de diamantes, uma pequena capela para o refúgio espiritual e deu a ela o nome de “Capela de Santo Antônio”, considerando que naquela época a questão espiritual era algo indispensável para as pessoas, fato que representa bem uma cidade pequena no interior.
A população de baixa renda, voltada aos preceitos religiosos, mantinha seu estilo de vida de forma a imitar a vida dos santos. Vale destacar que Santo Antônio foi escolhido como padroeiro por pertencer à ordem franciscana, tendo como princípio a caridade, e este princípio encontra-se presente no geral no modo de vida do povo. Assim esta forma de solidariedade e acolhida a fazer do conjunto patrimonialístico juntando ao costume de celebrar a data comemorativa da festa de Santo Antônio na comunidade.
Arquitetura da Igreja
A estrutura arquitetônica da Igreja Matriz de Santo Antônio edificada em pedra e madeira, telhas coloniais curvas, ostenta uma beleza arquitetônica própria, construída pelas mãos de escravos, segundo o professor Geraldo Fróis, “O seu conjunto é um edifício que se impõe pela beleza frontal, seguido de um corpo maciço delineado no colonial português com detalhes determinantes da influência asiática, percebido pela curvatura dos beirais”. Começou a ser erguida em 1839, junto com a formação do Arraial da Serra de Santo Antônio de Gran Mogor.
A Igreja foi inaugurada em 1858, o mesmo ano da elevação da categoria de vila para cidade. Apesar da construção da matriz ser datada no século XIX, período que havia influência da arte barroca no Brasil, as suas características são peculiares, não seguem o modelo e padrões de construção do período barroco. A arquitetura aproxima mais da arte gótica, uma vez que as torres frontais apresentam as técnicas sistemáticas do arco quebrado.
O período colonial brasileiro é marcado por esses dois fatores: o econômico e religioso de predominância católica, esses fatores são fáceis de perceber no contexto da gênese da cidade de Grão Mogol e da Matriz de Santo Antônio, era necessário à exploração de riquezas no município como também o processo religioso evangelizado. Foram necessários investimentos provinciais e de doações providas do povo com considerável quantidade de ouro e diamantes. Dessa forma, moradores e escravos uniram-se arduamente para a construção da Igreja que hoje é um dos ou talvez o maior patrimônio cultural grão-mogolense, sendo visitada por milhares de turistas e pesquisadores do mundo todo.
Administração Paroquial
Em 1º de janeiro de 1850 a Paróquia de Santo Antônio passou a pertencer ao Bispado de Diamantina. Dentre as visitas ilustres à Paróquia, destaca-se o Arcebispo da Bahia, D. Jerônimo Tomé da Silva, no final do século XIX. Em 1910 a Paróquia passou a fazer parte da Diocese de Montes Claros.

Desabamento da Torre Central
A Igreja Matriz de Santo Antônio sofreu um desabamento ocorrido, mais ou menos na década de 1910, do seu terço superior, entre as duas torres laterais, porém em 1923, a obra de reconstrução da torre foi totalmente remodelada perdendo o toque colonial português, ganhando o toque do gótico simplificado harmônico que realça a magnitude do templo consagrado a Santo Antônio, a partir daí contou com duas torres laterais originais, menores e com uma torre central maior.
Restaurações Anteriores
A igreja Matriz de Santo Antônio ao longo dos anos passou por algumas reformas:
- 1910 – desaba o terço superior da igreja entre as duas torres;
- 1923 – fim das obras de restauração da fachada;
- 1941 – restauro do altar-mor com pinturas de figuras decorativas efetuadas a expensas do Sr. Nábio Alves do Nascimento;
- 1983/85 – retirada do reboco interno das paredes; retirada também do gradeamento de ferro que formava um átrio interno;
- 2003 – reforma das instalações elétricas, piso, pedras e madeiras.
- 2010 – restauro do teto do altar principal.
Histórias Contadas Sobre a Igreja
Na época da mineração, a repressão por parte da coroa para manter o monopólio de exploração do ouro e diamantes era algo inerente àquele período. A construção da Igreja de Santo Antônio além de representar a história do povo de Grão Mogol, também está ligada a questão de ser espaço de refúgio, uma vez que a sua construção deu-se em um local central e estratégico que garantia a proteção dos garimpeiros em caso de uma repressão por parte da coroa. Naquela época a questão religiosa possuía grande valor, muitas vezes incontestáveis. Havia respeito aos locais religiosos, pode-se dizer que sob o domínio da religião, as pessoas e os monumentos religiosos contavam com total proteção, portanto os garimpeiros sabiam e aproveitavam bem dessa eventualidade.
Construída próximo ao Ribeirão do Inferno, esta proximidade permitia que os garimpeiros, findadas suas atividades laborativas diárias, fossem procurar refúgio espiritual ou cumprir com seus compromissos da fé, sem que precisassem deslocar muito para isso. O Ribeirão do Inferno era um dos principais córregos para lavar o cascalho e retirar os diamantes, ouro e demais pedras de valor.
A estrutura da Igreja exigiu grande proporção de pedras e madeiras, considerando que são paredes largas, portas robustas. Esta fortaleza não só daria segurança ao símbolo religioso, como muitas vezes servia para o acolhimento dos garimpeiros em uma possível negociação quando da chegada da guarda da coroa. Na sua fachada ao solo foram sepultadas pessoas de grande prestígio da sociedade e lideranças religiosas, uma vez que para aquela época essa prática de sepultamento era comum. Lá está registrado no Livro de Tombo n.º 1:
Falecimento. Ocorreu no dia 29 de maio de 1.856 o preto Silvério. Escravo que foi de João José de Paiva, com a idade de 60 anos, de nação africana, faleceu de inflamação de fígado. Foi enterrado no adro da igreja Matriz a 30 de maio de 1.856, envolto em hábito branco. (Livro n. 1 – Pág. 16)
Atualmente é possível visualizar três túmulos à frente da igreja, não se sabe se houve mais túmulos neste local ou nas proximidades ou se nestes túmulos há mais de um corpo da mesma família sepultado. Entretanto o conteúdo do Livro de Tombo apresenta centenas de relatos de sepultamentos no adro, conforme o caso relatado acima, e até outros nas demais regiões:
Faleceu no Palmital d’Água Preta a 11 de outubro de 1854, Antônio Gomes Ferreira, pardo, casado com Amância de Tal, foi procedida a morte por ser picado de cobra, com 45 anos e foi enterrado no dia 12 de outubro de 1.854, na Serrinha, e envolto em hábito branco. (Livro n.º 1 – folha 17)