Um ano junto à Igreja de Montes Claros

Eu vi e dou graças!

Eu vi e dou graças por um ano que passou acelerado e cheio de surpresas e novidades de Deus… Surpresas para mim e para o rebanho que esperava, ansioso e orante, pelo seu Pastor.

Eu vi pessoas ajuntando-se ao redor de mim para dar e ganhar um abraço, para fazer uma foto, para ver o bispo de perto, para dizer alguma coisa, pedir uma oração, uma benção, um afeto. Esta é a mística do nosso ministério: proximidade com Deus e proximidade com nosso povo, oração e compaixão, céu e terra, deserto e caminho.

Eu vi uma agenda cheia de reuniões, reuniões cheias de pessoas, pessoas cheias de vontade, sedentas de encontro, de missão, de fé. Vi uma legião de discípulos missionários, cristãos leigos e leigas, religiosos e religiosas, consagrados e consagradas, ministros ordenados, buscando, mesmo que em ritmo a ser acelerado, uma Igreja sinodal, um mistério de comunhão, participação e missão. Precisamos continuar, avançar e progredir nesta natureza antiga e sempre nova da Igreja.

Eu vi celebrações vibrantes, repletas de gente piedosa e fervorosa. Gente simples e crente. Gente boa de missa, de canto, de reza, de festa, de partilha. Gente sedenta de Deus. Feliz por ser Igreja e estar na Igreja, apesar de muitas conversões a serem feitas pelas pessoas e pela instituição.

Eu vi gente trazendo do seu pouco e do seu muito, do seu trabalho de cada dia, daquilo que suas terras produziram, para entregar ao bispo e a quem o bispo quisesse ajudar com estes dons. Coisas que encheram muitas vezes o grande bagageiro do carro. Coisas que o bispo comeu, bebeu, usou, dividiu, guardou e agradeceu a Deus por ter recebido.

Eu vi, depois de celebrações e encontros, muitas mesas postas e regadas de frutos benditos das terras, dos fogões, da culinária, da criatividade, da generosidade desta gente das Gerais.

Eu vi e conheci todos os cantos desta imensa Igreja, as esquinas e quarteirões mais próximos de casa até a mais distante das paróquias, os asfaltos e os caminhos de terra, as rodovias e as trilhas, a poeira e o barro. Vi as cidades de muitas paróquias, de uma paróquia e sem paróquia.

Eu vi uma imensidão de crismandos, de lideranças, de leigos engajados nas tarefas internas e externas da missão. Vi muitas comunidades, igrejas e capelas, pequenas para tantas pessoas reunidas. Vi gente de todas as classes sociais, de muitos estilos de espiritualidade, de muitas formas de engajamento social e eclesial, de muitas opções ideológicas. Gente sedenta de Deus, de encontro, de diálogo…

Eu vi jovens se tornando seminaristas, seminaristas se tornando diáconos, diáconos se tornando presbíteros, presbítero se tornando bispo para nossa Província Eclesiástica.

Eu vi uma Igreja Particular de nossa província eclesiástica, a Diocese de Januária, em radiante alegria e gratidão por ter recebido seu novo Pastor e pronta para ir adiante com ele.

Eu vi padres de todas as idades, fazendo muitas coisas, desdobrando-se para fazer o melhor, em circunstâncias desafiadoras e exigentes, percorrendo longas distâncias e atendendo pequenos lugarejos onde havia um pequenino rebanho que os esperava para a missa, a confissão, a reunião. Estão lá, sempre, padres e comunidades, faça sol e faça chuva!

Eu vi aqui todos os graus do sacramento da Ordem, dando plenitude ministerial a esta Igreja: diáconos, presbíteros e bispos (eu e o emérito). Vi religiosos e religiosas de muitos carismas, de muitas histórias, de muitos testemunhos. Vi leigos e leigas profundamente empenhados em causas nobres, dentro e fora das Igrejas, por causa do Evangelho e do Reino de Jesus.

Eu vi um irmão bispo emérito, trabalhador e discreto, amigo e respeitador, próximo e distante na justa medida, contador de piadas e mestre da fé, de fala mansa e riso contido.

Eu vi belos e vistosos templos e estruturas. Vi igrejas modestas e desprovidas, casas paroquiais amplas e outras bem precárias. Vi paróquias sem casa paroquial, sem carro, sem recursos, sem estruturas. E não vi amargor nem tristeza entre os que estão menos favorecidos. Vi padres, lideranças, comunidades buscando fazer o melhor e o possível em circunstâncias precárias.

Eu vi comunidades que gostam de seus padres e comunidades que queriam outros. Mas… são os que temos. Precisamos acreditar que eles mudam e se convertem. Não são sempre do mesmo jeito. E, se forem, estão perdidos, coitados! Acreditar neles primeiro; julgar e avaliar depois: eis o caminho.

Eu vi padres mais missionários e padres mais resistentes à mudança. Mas todos mudarão no tempo oportuno. Missão exige mudanças periódicas. Eu vi padres que trabalham muito, que estão identificados com estas terras e esta Igreja. Eu vi padres que são daqui e padres que vieram de fora e que, juntos, precisam ainda aprender a ser uma família presbiteral.

Eu vi uma Igreja que busca cuidar dos seus pobres, dos vulneráveis, dos socialmente excluídos. Vi uma Igreja que trabalha à noite para socorrer os que não têm endereço, nem casa, nem quem se ocupe deles; que acorda bem cedinho para oferecer a estes irmãos o primeiro café. Vi uma Igreja que visita e reza nos cárceres, nos hospitais, nos assentamentos, nas periferias, nas escolas, nos asilos, nas instituições que cuidam de pessoas especiais…

Eu vi uma Igreja que tem identidade, tem história, tem legado, tem futuro. Uma Igreja portadora de muitas esperanças e sonhos. E que é porto seguro e último socorro para muita gente.

Eu vi uma Igreja que quer continuar a avançar, e eu com ela. Uma Igreja, mesmo em meio a importantes evoluções a serem ainda realizadas, que quer ser uma comunidade de fé que seja verdadeira expressão e lugar de comunhão, participação e missão. Uma Igreja sinodal, onde os conselhos funcionem, onde todas as vozes sejam ouvidas, onde as reuniões sejam espaços de partilha e decisão, de convivência e fraternidade verdadeira.

Eu vi e quero continuar vendo uma Igreja que quer avançar para águas mais profundas e compromissos maiores, para enfrentamentos e testemunhos que traduzam com mais eloquência a nossa fé.

Eu vi um sacerdote que encerrou, em meio a muito sofrimento, sua missão neste mundo e partiu para o céu. Vi religiosas que também subiram para junto do Altíssimo. Vi leigos e lideranças que deixaram a casa provisória e foram para a casa definitiva. Agradeci a Deus pelas marcas positivas que eles deixaram na história desta Igreja.

Eu vi em 2023 uma Igreja que me acolheu, me amou, me entendeu, me valorizou, me deu um sim afetuoso, me aceitou como pastor. Estou muito feliz aqui. Não quero estar noutro lugar. Não me sinto mais alguém de fora ou um forasteiro desconhecido.

Eu vi uma Igreja que eu passei a amar, respeitar e tratar como minha. Não minha de posse, como se ela não fosse também sua, mas minha de pertença, de vínculo, de residência afetiva, de afeto familiar e fraterno.

Eu vi muitas coisas que levo no coração e que já são a primeira grande página de nossa história juntos.

Deus seja louvado pelo que eu vi. Dou graças a Ele por tudo. E peço a graça de continuar o caminho, na conversão cotidiana que cada um de nós precisa realizar. Por tudo, louvado seja Deus! Vamos adiante, para frente e para o alto.

 

Dom José Carlos de Souza Campos
Arcebispo Metropolitano de Montes Claros-MG

 

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