Vocação, dom do amor de Deus

O 3º Domingo do Tempo Comum nos propõe refletir sobre a temática da vocação, destacando a iniciativa divina e, em contrapartida, a resposta humana. A palavra vocação, do latim vocare, significa chamado, isto é, há alguém que chama e, em contrapartida, outro que responde. Na experiência cristã, compreendemos que esse “alguém” é o próprio Deus que se antecipa a nós e, por amor, nos elege e chama. Parafraseando Bento XVI, trata-se de um amor sem reservas que nos precede, sustenta e chama ao longo do caminho da vida e que tem a sua raiz na gratuidade absoluta de Deus.

O Evangelho do próximo domingo, Mc 1,14-20, retrata Jesus, no início da sua vida pública, chamando alguns pescadores que estavam trabalhando às margens do lago da Galileia. A intimação é clara: “Segui-me e eu farei de vós pescadores de homens” (Mc 1,17). De acordo com o relato bíblico, “deixando imediatamente as redes, seguiram a Jesus” (Mt 1,18). Aqui, compreende-se que a proposta que Jesus faz às pessoas é exigente: convida-as a adentar em sua amizade, escutar de perto a sua Palavra e a viver com Ele; ensina-lhes a dedicação total a Deus e à propagação do seu Reino; convida-as a sair da sua vontade fechada, autocentrada, para embrenhar-se noutra vontade, a de Deus, deixando-se guiar por ela; faz-lhes viver a fraternidade, que nasce da disponibilidade total a Deus.

Porém, há de se observar que o chamado feito por Jesus inclui, também, um envio, uma missão: “farei de vós pescadores de homens” (Mc 1,17). Após passar pela escola de Jesus e aprender d’Ele que é “manso e humilde de coração” (cf. Mt 11,19), os discípulos são enviados a serem sal da terra e luz do mundo (cf. Mt 5,13); os cristãos são enviados a testemunhar com alegria, em cada situação, por atitudes e palavras, aquilo outrora experimentado estando com Jesus e na sua comunidade, que é a Igreja.

Também hoje, o seguimento a Cristo é exigente; seu convite a “segui-lo” é provocativo e nos desinstala de nossas próprias convicções, sonhos e projetos. Por isso, há de se ter grande ousadia e coragem para corresponder a tal apelo. Somente um coração livre, desapegado de si mesmo, consegue adentrar nesta dinâmica do êxodo, da saída de si para corresponder a um apelo maior: ser instrumento da Graça e do Amor de Deus. Porém, uma vez respondido tal apelo, há de se tomar cuidado para que no caminho-resposta não se perca de vista “o ponto de partida”, já dizia Santa Clara de Assis. O ponto de partida é a experiência fundante que tivemos com Deus. Experiência essa que nos motivou a segui-Lo de forma mais próxima.

Vocação, portanto, é dom do amor de Deus que faz apelo à nossa liberdade; “é como uma semente divina que germina no terreno da nossa vida, abre-nos a Deus e abre-nos aos outros para partilhar com eles o tesouro encontrado” (Papa Francisco, Mensagem para 60° Dia Mundial de Oração pelas Vocações, 26/04/2023). Assim, inspirados pelo santo evangelho deste 3º Domingo do Tempo Comum, roguemos a Deus que dirija “a nossa vida segundo o vosso amor, para que possamos, em nome do vosso Filho, frutificar em boas obras” (Oração da Coleta do 3º Domingo do Tempo Comum) e corresponder ao seu apelo. Amém!

Diácono Jéferson de Jesus Teixeira
Colaborador na Paróquia Santa Rita em Ubaí/MG.
Arquidiocese em Missão